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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Por que 50 Tons de Cinza incomoda tanto?



Li todos os livros da trilogia 50 Tons (incluindo o escrito pelo ponto de vista do Grey). Assisti ao primeiro e ao segundo filme; não me interessei pelo último. O livro, aos olhos de um apreciador da boa leitura, é mal escrito e com um narrativa preguiçosa, previsível e com uma conclusão óbvia, ilustrando a clássica estória da Gata Borralheira, introduzindo nela uma pitada de fetiche. Lembrando que se trata de uma fanfic da série Crepúsculo, ou seja, não tinha como sair coisa muito boa. O filme, bem, é uma adaptação de um livro ruim, então não se podia esperar nada melhor (e a escolha daquele elenco insosso e sem sintonia também não ajudou em nada). O grande erro da comunidade BDSM é vê-lo como se fosse um documentário. Esquecem que se trata de uma atração holywoodiana e cumpre muito bem a sua função social: entreter o público baunilha e molhar calcinhas. 

Do ponto de vista do BDSM o filme não tem falhas. Mostra todo o contexto por trás do fetiche: há a negociação, a exposição dos limites (adoro quando ela fala que não aceita fisting e ele diz que talvez ela fosse gostar kkkkk,... menina boba), o contrato, o controle (tem muito Dominador tão controlador quanto o Grey), a masmorra, os acessórios, as práticas, a instigação dos sentidos, o sexo. Aos olhos de um praticante experiente que tenha lido o livro (porque no filme isso foi pouco trabalhado), enxerga-se até mesmo a figura do switcher, afinal o Grey foi submisso de Elena, que o introduziu ao BDSM para controlar seus impulsos violentos e problemas psicológicos (nada diferente do que vemos com muita gente que aparece por esse meio). Tem até mesmo a figura da ex-escrava psicótica (quem nunca teve o azar de conhecer uma Leila? kkkkkkkkkkkk). 

Pois bem, 50 Tons de Cinza introduziu com êxito para o grande público, de forma lúdica e sem desejo de chocar ninguém, todos os elementos do BDSM moderno ao recontar essa versão erótica da relação da Cinderela e do Príncipe Encantado. E, em consequência do grande sucesso, uma enorme parcela da sociedade baunilha tomou conhecimento da existência do BDSM e, pasmem, se interessou por ela. 

Claro que toda grande exposição tem seu bônus e seu ônus. 

O sadomasoquismo sempre foi visto como algo doentio e sujo, e era vivenciado apenas no submundo. Quem já leu um pouco sobre a história do BDSM no Brasil (muitos por aqui vivenciaram realmente esses fatos), já ouviu falar sobre prisões, batidas policiais nas festas em razão de denúncias, acusações infundadas (ou algumas nem tanto mas não vem ao caso rsrs) de pedofilia e escravidão forçada. O BDSM era, e (não se enganem) ainda é, alvo de julgamento social. O sadomasoquismo é classificado como doença no CID 10, ainda vigente (F65.5 lembra?). O próximo CID exclui o sadomasoquismo erótico, mantendo apenas o sadismo coercivo na lista de transtornos, resultado direto das lutas por aceitação pelas comunidades sadomasoquistas do exterior (principalmente da comunidade Leather). Mas essa mudança vai demorar muito para surtir efeito real. Acreditem, ainda seremos vistos como doentes por anos a fio pela comunidade médica e, consequentemente, pela sociedade. 

No meu ponto de vista, o filme 50 Tons de Cinza teve, a longo prazo, o mesmo efeito prático para a comunidade sadomasoquista (respeitadas, obviamente, as devidas proporções) do que os causados quando do lançamento da sigla SSC, na Marcha de Washington em 1987: mostrou para a sociedade baunilha que nós não somos pessoas insanas; somos apenas pessoas normais vivenciando os seus fetiches de forma segura e consensual. E esta visão é tão verdadeira que, quando Anastácia Stelle fala para o Grey que não deseja mais vivenciar aquilo, ele queima o contrato e ambos param de praticar o BDSM e passam apenas a ter uma relação baunilha, mantendo um pouco do erotismo da dominação somente como fetiche durante o sexo. 

50 Tons de Cinza conseguiu fazer com que uma grande parcela da sociedade visse o BDSM como uma imagem menos negra e ilustrando-a com mais tons de cinza (perdoem-me pelo trocadilho kkkk). Ele suavizou a visão crítica da sociedade sobre o tema. 

No meu aniversário de 40 anos, ganhei de presente da minha irmã de coleira um bolo totalmente decorado com elementos sadomasoquistas, até mesmo os cupcakes. Foi uma festa muito divertida e eu levei os cupcakes que sobraram para o trabalho. dei para o pessoal dizendo que meu aniversário foi com a decoração de 50 Tons de Cinza. Todos riram, acharam engraçado... mas não foi um choque. Ninguém me olhou como se eu fosse um demônio. Hoje eu uso coleiras na rua tranquilamente como um acessório (sem a guia, afinal não tenho o intuito de chocar ninguém). Hoje nós vemos elementos sadomasoquistas em comerciais de TV, na novela, em filmes. Ainda há julgamentos? Claro que há. Mas quem realmente pratica o BDSM sentiu sim essa diferença. Podem fazer cara feia... podem resmungar o quanto quiserem. Mas, sim, 50 Tons de Cinza tornou a nossa vida em sociedade mais leve. 

Muitos praticantes descobriram o sadomasoquismo através do filme. Conheço submissas e escravas excelentes que “são frutos do 50 Tons”, como dizem maldosamente. Veio gente boa, comprometida, com vontade de aprender e praticar de fato. Elas vieram com a mente aberta, estudaram, conheceram pessoas, praticaram, e estão por aí, felizes e vivenciando o melhor (e o pior) que o BDSM tem pra oferecer, afinal, nem tudo são flores. 

Mas, como eu disse, toda grande exposição tem também o seu ônus. Sempre que se abre um portão largo para a multidão, fica difícil de se controlar quem entra. Então era de se esperar que, no meio da grande massa, se encontrassem vários curiosos, moralistas, afoitos. Infelizmente, que também se infiltrassem abusadores, estelionatários e aproveitadores de todo tipo, afinal, gente de má índole temos na sociedade aos montes; então é algo proporcional. 

Essas pessoas se proliferam nas redes sociais. Entram no ônibus no meio da viagem e querem sentar na janela. Querem trazer as regras do mundo baunilha para o mundo BDSM e empurrar goela abaixo de quem já está aqui praticando faz tempo, que o que vivemos está errado, que tudo é abuso, que submisso tem o mesmo poder que Top. Querem impor as suas vontades e regras se sobrepondo ao que já existe, tumultuam e fazem uma grande confusão. Se confundem e tentam nos confundir. 

Particularmente, eu não me estresso mais com esse pessoal. Imagina um jogador de futebol de várzea que passou a jogar na primeira divisão. Ele não concorda com as regras de arbitragem, nem com as regras do jogo. Começa a fazer um tumulto no time. Ele pode até causar... mas uma hora vai começar, por força, a seguir as regras senão vai ficar sem time para jogar. No BDSM não dá pra tirar o jogador do campo mas, certamente, se ele começar a causar demais, a probabilidade dele jogar num time sério vai ser pequena. Praticantes sérios apenas riem de pessoas assim. 

Mas esses são fáceis de identificar... a maioria não sai das redes sociais, vangloriam relações virtuais. São agressivos quando tem suas opiniões confrontadas. Não tem base, não tem argumentos válidos que defendam suas teorias. E, no final, não passam disso mesmo: de teóricos; porque a vivência é quase zero. Apenas reproduzem o que lêem na internet com a sua visão distorcida. 

Contudo, mesmo com toda essa balbúrdia causada na internet, ainda penso que 50 Tons de Cinza teve efeitos muito mais positivos que negativos para a comunidade BDSM como um todo. Se a pessoa pratica sadomasoquismo de forma real, não se preocupa com os virtuais. Nos eventos, em suas casas, ainda reina a cordialidade, as regras e o BDSM continua mais vivo do que nunca. 

Ficou um pouco mais difícil de se encontrar alguém com quem praticar? Sim... ficou um pouco... mas meu primeiro Dono, lá em 2009 já me dizia uma frase que nunca esqueci: “Quem é de verdade, sabe reconhecer quem é de mentira”. Praticantes reais vão sempre se cruzar e vão continuar praticando BDSM. Os demais, podem continuar tentando mudar regras pela internet. 

OK... o Grey se apaixonou, largou o BDSM para viver com a Anastácia e a mulherada acha que vai conseguir dar o golpe do baú também... Ah... conheço casos semelhantes e o Top nem rico era... kkkkk... Se a Anastácia tivesse gostado da coisa, ele teria continuado sendo dominador e ambos continuariam se amando do mesmo jeito. Foi apenas a solução dada pela autora. O BDSM nunca foi o foco da estória e, sim, a relação amorosa entre Annastacia e Christian. O BDSM só estava ali para apimentar as cenas mesmo.

No mais, ainda queria ver essa estória contada pelo ponto de vista da Leila. Ela realmente era praticante, era escrava e se relacionava diretamente com o Grey-Dominador, que era seu Mestre, e não com o Grey-bau. Ela fala pra Anastacia "O Mestre, o Sr. Grey, ele permite que você o chame pelo seu nome"... Em outro momento ainda diz "Eu nunca dormi na cama do Mestre". Eu compreendo Leila... compreendo seu sofrimento... sua paixão... sua submissão... Mas essa versão certamente não venderia milhões de livros. A servidão real não é bonita e seria chocante demais para o grande publico.


Meus respeitos
Lilica de Mestre Gregório



segunda-feira, 20 de abril de 2020

Entrevista no Grupo Confraria Sociedade BDSM

Olá, pessoal. 

Vida corrida: faculdade, trabalho, desânimo... mas vida que segue.
Faz tempo que não escrevo e nem posto nada aqui; mas dei uma entrevista no Grupo Confraria Sociedade BDSM no 22/03/2020 e gostaria de compartilhar com vocês.

Lembrando que tudo o que falo é opinião pessoal, baseada nas minhas experiências; não são verdades absolutas nem muito menos desejo de ditar regras. 

Boa leitura.


* Boa noite.
Vou fazer um breve resumo de mim.
Me chamo lilica de Mestre Gregório, tenho 41 anos, comecei a estudar BDSM em 2006, a praticar mesmo em 2009, porém me mantive afastada por alguns anos, retornando ao meio no final de 2016.
Tenho a honra de estar servindo ao Mestre Gregório a 2 anos e 5 meses.
Sou apaixonada pela liturgia e pelos protocolos, mas não sou escrava deles, pois as relações, como diz o Mestre, sofrem mutações.
Tenho um forte dogma sobre ao ser escrava eu sou posse, tanto que meu blog se chama Jus Possessionis, que é um termo jurídico que significa Direito de Posse.
Bom é isso. E obrigada pelo convite e oportunidade sobre dar a minha visão sobre a submissão. 🥰


Sociedade: o que compreende a liturgia e protocolos dentro do BDSM? 

* Bom... o BDSM não tem um livro de regras, infelizmente (ou felizmente, não sei mais... rs).
Mas, antes da lei, vem a norma, que é uma espécie de consenso geral não escrito, mas que existe; e todos sabem que existe. Podem chamar de protocolos; no Brasil, convencionou-se chamar de Liturgia.
Mas conceitos que compreendem a hierarquia e a verticalidade (com o ordenamento dos papéis Top, bottom e Switcher), as bases que incluem a consensualidade (SSC e suas ramificações), os formatos de relações, estudo prévio para realização das práticas, rituais que embelezam e dão simbologia aos atos. Tudo faz parte da liturgia.
Se pesquisarmos material estrangeiro veremos que há um consenso, um padrão que as pessoas seguem. Adapta-se uma coisa ou outra mas, no geral, os protocolos regem o BDSM para que possa ser praticado com segurança e prazer.


Sociedade: apesar de você ser adepta dos Protocolos/Liturgia concorda que o SSC não dá a segurança que algumas pessoas julgam ter ?

* Segurança é algo relativo. As pessoas traduzem o Segurança ao pé da letra, onde nada nunca dá errado. Isso certamente é uma falácia, afinal não há como prever 100% das situações. Os cuidados com a segurança são para minimizar os erros, não para isolá-los totalmente. Um bottom pode se mexer, uma corda pode quebrar, uma vela pode cair, um chicote pode reverberar... tanta coisa pode acontecer. Ninguém é Deus para prever tudo.


Sociedade: qual seria ao seu ver o dogma do ser escrava ou posse...?

* A escravidão no BDSM não é real, obviamente; ela é erótica. A lei não permite que se possa possuir literalmente uma pessoa. Por que ela é erótica? Porque eu tenho prazer em ser posse, em estar posse, em não ter direitos dentro daquela relação; e, principalmente, porque eu tenho a plena certeza de que se amanhã eu não quiser mais ser escrava, eu não sou mais.
No entanto, enquanto o Mestre estiver exercendo o seu Jus Possessionis erótico sobre mim, eu, como escrava, não devo ser nada além do que aquilo que eu me propus a ser: uma escrava. Então qual seria a lógica de questionar cada ordem, desobedecer? Eu não estaria sendo leal ao que eu quero ser: escrava.
Obviamente existem várias formas de se submeter (inclusive de não se submeter rs) mas, para mim, ser posse é isso: pertencer e obedecer.


Sociedade: Lilica, confesso que tenho muita dificuldade em aceitar algumas coisas e me submeter. Contemplo a submissão e jamais me vi empunhando um chicote, sempre me vejo recebendo os golpes. Não me importo em apanhar, mas a subserviência ainda é algo difícil de engolir.O que pode me ajudar nesse processo.

* Você precisa descobrir se realmente seu desejo é se submeter. A submissão é um desejo interno. Você pode ser apenas masoquista, desejar o prazer da dor. Eu, sinceramente, não acredito muito nesse negócio de forçar submissão, ou se aprender a submissão. Você pode despertar dentro de si algo que estava adormecido. Conhecer alguém a quem deseje realmente estar aos pés. Mas pode não acontecer. E isso não te torna melhor ou pior; apenas tem outra forma de querer praticar. BDSM não tem apenas D e S.


Sociedade: como vc vê o empréstimo de escravas entre os Nobres dentro do BDSM??

* Eu gosto.. sendo objeto não cabe a mim questionar a quem o Mestre me empresta. Mas é necessário um alto grau de confiança entre a posse e o Dono. A posse tem que confiar que o Dono não vai desejar nunca prejudicá-la; que tudo o que ele fará é para o crescimento dela como posse, como submissa.
Falo no feminino porque falo na minha pessoa, mas serve para os bottoms masculinos também.


Sociedade: Lembrando que submissão é diferente de subserviência, não é Lilica?

* Subserviência e submissão refletem a mesma coisa: ambas significam se submeter ou servir voluntariamente a alguém.
A diferença é que uma pessoa subserviente não questiona e faz o que mandam por medo de ser excluído, rejeitado.
Sua submissão é falsa e visa interesses mesquinhos.
Por sua vez, uma pessoa submissa, se submete pelo prazer de servir, pelo desejo de ver o outro bem. Uma pessoa submissa é humilde.
Uma pessoa subserviente é egoísta.
Então, embora ambas sejam submissões voluntárias, o que as diferencia é o objetivo: servir em prol do outro (submissão) e servir por medo do outro (subserviência).
Uma submissa no BDSM não pode ser subserviente. Porque senão ela acaba servindo ao primeiro que for mais autoritário com ela.


Sociedade: como você vê as submissas que vão além de seus limites pelo dono....

* Toda submissa tem o desejo de servir ao seu Dono de forma plena, ser a mais perfeita.
Isso é um erro comum; as vezes por medo de ser rejeitada, por medo de desgostar o Dono.
´Mas é um erro. Toda vez que uma submissa vai além do seu limite, ela está sendo desleal com o Dono e consigo mesma, pois as consequências a longo prazo podem ser desastrosas: tanto física quanto psicologicamente falando.


Sociedade: que sou uma sub disso eu não tenho duvida, não me vejo no comando, mas as vezes sinto uma vontade de dar uma leve desafiada, é normal isso em uma sub?

* Claro que é normal... é gostoso desafiar... ver até onde o Dono vai... a pergunta certa é: você realmente está preparada para descobrir isso? E outra: a pessoa com quem você está jogando também gosta desses desafios? A consensualidade tem que ser pro Top também kkkk. Se o Top não gosta de ser desafiado não é obrigado a jogar com alguém que o desafie o tempo todo, certo? Mas completando, temos aí as brats que não me deixam mentir.


Sociedade: mas escravo é ser subserviente.

* Na literalidade da palavra até é mesmo, Senhora. Mas a subserviência provém do medo de ser rejeitado; isso gera dependência, angústia.
A submissão voluntária é prazerosa... gera desejo, tesão. Submeter-se é entendimento de que aquilo vai lhe proporcionar algo bom.


Sociedade: Como vc vê as pessoas que pretendem ser submissas apenas em cenas ?

* Bom... nem só de DS vive o BDSM. Uma relação SM, pode ser TPE, PPE ou EPE. Nesta última Erotic Power Exchange, o jogo se dá apenas em cena ou sessão; fora delas não há Dominação ou Submissão. ambos seguem suas vidas normalmente.
É preciso abrir a mente para perceber que nem todas as relações BDSM são DS onde Top e bottom moram juntos ou estão juntos o tempo todo. Há vários formatos e todos são BDSM.


Sociedade: você acha que brat seja uma submissa?

* Para mim, brat é uma dinâmica dentro de uma relação. Ela é uma submissa que, dentro de sua dinâmica, gosta de brincar e desafiar. Ultimamente eu ando bastante brat kkkkkkkk... faço piadas, jogo indiretas... faz parte do nosso jeito. Não é porque sou escrava que sou uma Então, sim, pra mim brat é uma submissa que gosta de desafiar, mas todas se submetem.


Sociedade: Mas isso me faz uma brat?

* Se eu fosse você não me preocupava muito em se rotular. Seja você. Uma submissa não interpreta papéis, ela simplesmente é. O Top vai se interessar por você pelas suas qualidades e defeitos (que ele vai querer moldar), e isto que torna o jogo dinâmico. A única coisa que você não pode deixar nunca é de respeitar a hierarquia. O resto tudo flui. Com o tempo você descobre a sua forma de se submeter e se encaixa num dos inúmeros nomes que o povo dá por aí.


Sociedade: vemos o crescimento de muitos blogs e sites acham que todos estão preparados mesmo ou apenas querem ser notados e conhecidos no meio BDSM?

* Vou ser sincera: não leio praticamente nenhum mais. Nem sei o que dizem. Mal entro no meu kkkkkkkkk. (depois entrem lá).
Mas antigamente, quando eu lia, percebi uma coisa interessante: todos falavam a mesma coisa... era o mesmo texto... copy cola um do outro, ou traduções de textos estrangeiros na maioria das vezes sem referência nenhuma. Pouco material autoral.
Hoje todo mundo quer ser estrela no BDSM.. .todo mundo quer ganhar dinheiro, views, ser couch de BDSM.
A única coisa que eu aconselho a quem estiver estudando agora é tentar ver se há coerência nas coisas que lê (e ver se elas não são o mesmo texto apenas replicado dezenas de vezes).


Sociedade: Acho que sou adepta das EPE's... 🤔

* e tá lindo... você nem é obrigado a ter uma DS... pode fazer avulsas com quem confia e também está certo.


Sociedade: Mesmo dentro da relação SM existe hierarquia, o que você pensa dessas masocas rebeldes malucas que dizem viver o SM?

* Eu conheço e converso com poucas masocas. Confesso não conhecer o pensamento delas em relação a isso. Mas, para mim, lilica, na hora do jogo há hierarquia sim: uma pessoa está se submetendo a outra na prática.
Há um Top, há um bottom: ela está se sujeitando aos desejos do Top (que também são os dela).
Então há hierarquia.


Sociedade: falou pra não se definir nego bate palma, a primeira coisa que fiz quando entrei no BDSM foi escolher uma posição, agora não pode se definir ... viva loucamente.

* não foi o que eu disse... você se define dentro de uma posição... sou Top, sou bottom... mas aquele monte de rótulos que querem que as pessoas se encaixem que devem ser evitados.
Você é Top, ok; depois descobre se é Daddy, Tammer, Sádico, Rigger, Hunter.
Você é bottom, ok; depois de define se é escrava, submissa, brat, dorei, primal e afins
Foi isso o que eu disse sobre se definir.


Sociedade: agora ficou melhor ..

* As pessoas sempre sabem o que são... elas apenas tem medo... eu nunca tive dúvidas que queria me submeter... ao passo que um Top nunca teve duvidas de que seu desejo é dominar.
Algumas pessoas depois descobrem que gostam dos dois lados.
Mas Top, bottom e switcher é fácil.
Pra que esse monte de nome todo para subdividir cada um? peço desculpas se não havia sido clara neste sentido.
As iniciantes chegam hoje preocupadas em se encaixarem... sou brat? sou submissa? sou escrava? sou sei lá o que?
Pra que? apenas sejam vocês mesmas... curtam o desejo de servir... o seu jeitinho quem vai moldar é o Top.
Eu era um demônio... pior do que qualquer pseudobrat mal humorada por aí. Hoje sou uma princesa. 😇. Moldada pelas mãos do Mestre Gregório.


Sociedade: o que justifica esse medo de se dizer sub, agora todos que chegam já se dizem sw sem nunca terem sequer visto um flogger? Essas pessoas sabem o que é ser sw?

* Na verdade, eu vejo isso como um problema de interpretação.
Nós temos desejos que se sobressaem: alguns sentem prazer em serem subjulgados. outros sentem prazer em subjulgar.
O que se sobressair é aonde nos encaixamos primariamente.
Então se gosto de subjulgar me apresento como Top.
Se gosto de me submeter me apresento como bottom.
Com o passar do tempo, com a vivência, experiência, somos invariavelmente apresentados ao lado oposto.
Podemos não gostar e perceber que queremos ficar apenas no lado que escolhemos primeiramente.
E podemos ter prazer com o outro lado, descobrir mais e perceber que aquilo também agrada, daí nos descobrimos Switcher.
Mas hoje, pelo que percebi, em algumas mentorias que tive o (des)prazer de testemunhar, ensinam que, se você não sabe o que é você é switcher; depois você descobre se gosta mais de ser Top ou bottom.
Então não é que a pessoa chega e se apresenta como switcher: ela foi orientada por pessoas mais experientes a agir assim.
E quem sou eu para debater isso com os tais mentores?


Sociedade: tem pessoas que torcem o nariz para os rituais, mas mal sabem que os ritos começam antes da sessão, quais os rituais mais comuns que você conhece?

* As pessoas torcem o nariz para os rituais porque muita gente transforma os rituais em teatro.
Os rituais servem para enriquecer e dar simbologia Às relações; tornar as coisas mais bonitas.
Eu sou católica, estudei a simbologia por trás dos rituais e, por isso, eles se tornam mais ricos a cada celebração.
No BDSM, quando se compreende o significado dos rituais, ele torna as relações mais ricas também.
Rituais mesmo eu conheço dois: o de encoleiramento e o das rosas.

Eu sinto muito por se perderem o sentido dos rituais de encoleiramento. Hoje ele serve apenas para marcar território: esta aqui tá de coleira, tá comigo.
O encoleiramento é um compromisso.
Antes do encoleiramento tem a consideração (ou avaliação)... pode ter uma coleira também... é como se fosse um noivado... rs.
O encoleiramento seria o casamento. rs.
Uma escrava encoleirada carrega o nome do seu Dono para onde for. Tudo o que ela fizer será espelho do treinamento do seu Dono. Se ela errar, foi o Dono que errou. Se ela acertar, foi o Dono que acertou.
Muitas submissas não fazem ideia do que é a real responsabilidade de carregar o nome da casa se um Dominador.

O outro ritual que amo é o das Rosas...
Este é um ritual de confirmação. Tem origens místicas. Você faz um laço de sangue com o outro.
É um laço que ultrapassa a fronteira carnal e se torna espiritual. Mas, mais uma vez, as pessoas não fazem ideia do que estão fazendo kkkk
Fora isso, tem os rituais particulares de cada Dominador em sua casa.
Mestre tem posições em que devo recebê-lo, momentos em que posso falar, e que posso fazer ou não alguma coisa.
São rituais próprios e cada um tem o seu jeitinho... mas são gostosos esses rituais.


Sociedade: Eu não me considero brat, só tenho vontade as vezes de dar uma leve desafiada.

* ultimamente me apresento como escrava brat kkkkkkkk


Sociedade: deixa eu mandar pro Gregório isso

* Ele sabe kkkkkkkkkk


Sociedade: Tira uma duvida, escrava não tem voz, escrava não tem querer, como funciona isso em ser esctava-brat

* Essa estória de escrava brat é uma piada que se originou em outro grupo. Eu fiz a mesma colocação que falei aqui sobre o que penso sobre ser brat e a adm colocou uma brat no grupo para explicar pra gente o que era ser brat de verdade. Ela descreveu uma submissa tão perfeita que todas as submissas e masoquistas do grupo se identificaram como sendo brats.
Mas não leve a sério... não tem como eu ser brat com o Mestre... faço brincadeiras, dou risada, jogo olhar ousado... mas obedeço a tudo.
Deixa eu fazer um adendo interessante aqui... escrava tem voz sim, tem desejos sim...
A diferença é que ela poder falar ou ter seus desejos atendidos é poder discricionário do Dono... Como um Dominador vai te dominar se ele não conhece os seus medos e desejos?


Sociedade: Eu sempre tenho a impressão que toda sub quer sexo, mas que dono não quer se deixar levar...

* As pessoas tem que saber o que elas verdadeiramente buscam. Quando entrei no BDSM eu estava sim em busca de sexo hard. Demorei para entender que BDSM era mais do que sexo hard.
Uma vez, numa conversa de café da manhã com o Lord Segger (Studio SM), ele me falou uma frase que traduz perfeitamente o meu pensamento hoje: transformar o BDSM em uma preliminar de sexo é reduzir tudo o que fazemos a nada.
Mas, mais uma vez, as pessoas precisam ter consciência do que elas realmente buscam. Eu já fiquei dois, três meses ou mais sem sexo por ordem do Mestre Gregório. Se eu estivesse nessa relação pelo sexo, certamente ela já teria se fadado ao fracasso.


Sociedade: a velha historia sexo não é pratica mas não esta intrínseco nas praticas a sexualidade, sensualidade, erotismo ?

* As pessoas se preocupam demais com o sexo (coito).
BDSM é um jogo erótico... isso aqui não é religião.. é erótico, instinto animal... é cheiro, toque, tesão.
Tudo é voltado para o sexo.
O coito pode ou não existir a critério do Dono... pode-se usar o sexo até como humilhação.
E pode não ter sexo (coito) nenhum.
Ademais, eu sempre digo isso: depois que tive uma mão e um braço enfiado dentro de mim, acha que um pênis vai me fazer diferença? Kkkkkkkkkk


Sociedade: ué não é escrava? não é peça? normal usar pra algo sexual.

* O Dono usa a posse dele como e quando ele quer... ela é posse.. está ali pra isso: satisfazer.


Sociedade: acredita que exista um perfil de submissa para cada Top? Ou vice versa?

* Como o Mestre Gregório me disse uma vez, cada submissa é diferente. Não existe um padrão de submissa... cada uma é única com suas particularidades, desejos. O Top vai pegar aquela peça e adequá-la ao seu próprio desejo.


Sociedade: escravo é um estágio que o submisso alcança?

* não... são formas diferentes de se submeter... tenho um texto muito bom no blog que achei na internet e nunca localizei a fonte original, infelizmente, que faz uma diferenciação excelente entre submissos e escravos.
convido-os a ler posteriormente.


Sociedade: nunca achei que BDSM é uma preliminar do sexo e já ouvi o mesmo TOP dizendo isso com pesar. Ocorre que BDSM no meu entendimento tem um contexto erótico, que leva à busca do prazer, da satisfação - que pode ser sexual ou não. Sexo por sexo, podemos ter Na vida bau, em relacionamentos pautados fora do BDSM. Eu mesma lá atrás, quando tive meu primeiro contato fiquei bem confusa com tudo isso. Não é sexo hard que eu busco no BDSM, isso eu tenho fora. Procuro algo além, algo que me faça transcender. Isso existe mesmo ou criei muita expectativa?

* Nem tanto o céu, nem tanto a terra.
Pessoal fala muito desse negócio de submissão de alma... entrega incondicional... submissão sem limites.
Eu sou muito cética pra esse tipo de coisa.
Me submeto por prazer erótico. É o jogo que me agrada.


Sociedade: ninguém chega escravo, aos poucos abre mão dos seus desejos para servir, Não seria isso uma evolução?

* não penso assim... o pensamento do escravo é diferente do pensamento do submisso... são formas diferentes... eu nunca fui submissa... meu treinamento foi todo para a escravidão.... minha mente foi moldada nesse sentido.
Tem quem não precise disso. São apenas maneiras diferentes de se entregar.


Sociedade: mas tem quem se entregue pelo prazer de ver a Dona ter prazer, ou isso é algo mais masculino ?


* não... é o desejo de todo(a) escravo(a). Ele é posse e quer ver o seu Dono feliz.


Sociedade: mas você disse ser pelo erótico, eu tive escravo que não tinha recompensa além de me ver ter prazer.

* e isso não é erótico? ver o prazer do outro?
Ele não ficava excitado em lhe proporcionar prazer?
se não for erótico, se não há prazer, não é BDSM... é abuso. Rs
o prazer é além do toque.


Sociedade: existe no meio um certo pré conceito com relação a avulsas! Por que isso acontece? Quais os pontos positivos e negativos acerca de avulsas?

* Eu resumo isso a uma coisa: ranço baunilha kkkkk.
As pessoas tem uma ideia baunilha pré-concebida de que uma relação consiste em parceiros fixos e que qualquer pessoa que não tenha um parceiro fixo não presta, é galinha, não merece confiança.
É um dos preconceitos baunilhas mais bobos trazidos ao BDSM.
O BDSM é um jogo, tanto que o parceiro é chamado em inglês de playpartner.
Eu posso jogar com o meu namorado, com o meu esposo, com um ficante.
Eu posso jogar com quem eu quiser, desde que ambos tenham conhecimentos claros das regras do jogo.


Sociedade: Ser posse, é inclusive saber superar as distâncias. Lilica, fala um pouco sobre isso. Como superar as adversidades na relação?

* Muita submissa tem a falsa convicção de que, ao ter um Dono, ela vai ter sessão toda hora, o Dono vai estar disponível pra ela 24 horas por dia para quando ela quiser chamá-lo no whatsapp ou fazer uma ligação. Que todo final de semana estará enfurnada na casa do Dono e terão momentos de prazer e gozo como se não houvesse amanhã.
Mas não... o Dono é um homem comum, que trabalha, pode ter família, tem uma vida baunilha... pode inclusive ter outras posses além de você.
Ele não está disponível pra você e isso dói. Dono não é namorado e não é marido; não tem que dar satisfação do que faz e pra onde vai ou com quem está. E isso também dói.
Você está preparada para tudo isso? De que ao se submeter você pertence ao Dono e não Ele a você? Então caia de cabeça... rs


Sociedade: querida e sobre canil e irmã de coleira?
A sub que se envolve emocionalmente com o dono vai ter dificuldades com isso... pelo menos mas os dificuldades do que as subs que estão alí pelo jogo, ou não?

* O ciúmes é inerente da mulher. Eu sou terrivelmente ciumenta. Mas como você lida com esse ciúmes é que faz a diferença.
Eu tenho um pensamento bem particular de como funciona a relação em um canil.
Mestre Gregório tem duas relações: a Dele com a Lilica e a Dele com a Laika.
Eu, lilica, só tenho uma relação: a minha com o Mestre.
Não meto uma vírgula na relação do Mestre com a Laika e Laika não se intromete na minha relação com o Mestre.
Tive uma imensa sorte ao encontrá-la.
Mas todo o sucesso da nossa relação dar certo consiste em uma única coisa: ambas apenas querem ter prazer em servir. Mestre Gregório não tem envolvimento na minha relação com Laika; não força a nossa amizade.
Eu posso não ter contato com alguma outra submissa do Mestre; posso não ter amizade.
O principal problema é quando a outra submissa chega tentando forçar a relação, interferir na minha relação com o Mestre... aí eu viro o demônio kkkkkkkkkkkk.


Sociedade: Avulsas e bom ou não pra que iniciantes?

* Minha opinião pessoal: pra mim ninguém deveria começar em D/s.
D/s requer maturidade, auto conhecimento, conhecimento das práticas, do BDSM... coisas que vc desenvolve muito mais rapidamente nas cenas e sessões avulsas.
Mas, deixando bem claro novamente, essa é minha opinião.


Sociedade: saudações ao Gregório, agradeça em meu nome e do Sociedade, agradeço a vc por disponibilizar seu tempo, obrigada 😘🖤

* Eu que agradeço em nome da Casa Gregório a confiança e a oportunidade em compartilhar minhas experiências. Amei esse momento. Sou grata de coração.

domingo, 16 de junho de 2019

Entrevista no Programa Agitando BDSM - Rádio Agita Planeta

Link para a minha entrevista, junto com a linda Val Hell, no Programa Agitando BDSM, na Rádio Agita Planeta, com apresentação de Francine Zanque (aka Senhora Valentina Severo).

O programa é apresentado às quintas-feiras, a partir das 21h00, na Rádio Agita Planeta.
www.agitaplaneta.com

Enjoy e assistam as outras entrevistas também.




Programa Agitando BDSM - Mulheres na Submissão C/ Lilica MG e Val Hell

terça-feira, 14 de maio de 2019


Ontem me perguntaram como separo o "eu escrava" do "eu baunilha".
Eu não separo a baunilha da escrava.
Eu sou uma escrava que tem atividades baunilhas e não uma baunilha que brinca de escravidão consensual de vez em quando.
Esse é o meu conceito de ser 24/7. 
Eu apenas sou... 🥰

Lilica de Mestre Gregório

domingo, 24 de março de 2019

Divagações... ou não?

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Entrevista no Programa Agitando BDSM - Rádio Agita Planeta

Link para a minha entrevista no Programa Agitando BDSM, na Rádio Agita Planeta, com apresentação de Francine Zanque (aka Senhora Valentina Severo).
Está em duas partes por ter dado erro na transmissão durante a programação

O programa é apresentado às quintas-feiras, a partir das 21h00, na Rádio Agita Planeta.
www.agitaplaneta.com

Esta foi uma das entrevistas da Série Bottoms.

Enjoy e assistam as outras entrevistas também.


Programa Agitando BDSM - Série Bottoms Escrava Lilica - Parte 1


Programa Agitando BDSM - Série Bottoms Escrava Lilica - Parte 2

Diferença entre submissos e escravos

Segue abaixo um texto maravilhoso que eu já tinha lido a muitos anos e que tive o prazer de reencontrar. Foi o texto com o qual mais me identifiquei quando se trata desse tema.
 
Foi com base nele que cunhei, a muitos anos, a minha frase de apresentação: Se o Senhor quer me dominar, tire-me tudo... até o direito de desistir de servi-lo..." O único que me impedirá de servi-lo é o Senhor mesmo.
 
Enjoy.
 
 
Muitos perguntam se escravas realmente existem. Na forma como a história e os dicionários definem, não, elas não existem na maioria dos países modernos. (Apesar de haver alguma controvérsia sobre círculos de escravidão existir secretamente). A maioria das pessoas geralmente concorda que a posse legal de outro ser humano é imoral, e logo, ilegal. Em todo caso, no mundo BDSM, alguém perceberá que as pessoas envolvidas se denominam por vários nomes; um deles, é o termo "escravo(a)".
 
Naturalmente, isso frequentemente levanta a questão de quão diferente uma escrava é de uma submissa.
Esta questão normalmente é encarada com franca hostilidade, descrença na existência de escravas, e a ideia de que as palavras escrava e submissa (como nomes) são termos permutáveis, equivalentes, no mundo BDSM. Muitos não concordarão com quaisquer destas ideias, e eu sou um deles. Gastei uma generosa soma de tempo conversando com escravas na melhor tentativa de entendê-las, suas opções, e fazer meus juízos se isso é uma escolha saudável ou não, dentro do estilo de vida BDSM.
 
À pergunta de se escravas existem ou não no BDSM, eu respondo que sim. Podem não ser o grupo mais numeroso, mas têm algumas. Escravas diferem de submissas? Novamente, minha resposta é sim. Escravas diferem de submissas pela forma como pensam, agem, submetem-se e suas expectativas.
Uma escrava tende a pensar mais na linha "preto no branco". Elas têm muito pouco espaço para manobras ou tons de cinza na sua escolha. Elas não parecem esperar muita flexibilidade do comportamento de seu Dominante também. Com isto eu quero dizer, se uma escrava está sentindo-se indisposta e logo não completa suas tarefas diárias, esperaria do Dominante o castigo de sempre. Uma submissa estaria mais inclinada a esperar indulgência do Dominante porque estava indisposta. Uma escrava pensa em termos de ser posse, não em termos de estar submetendo-se. Para elas, estar encoleirada em um relacionamento significa ser posse, e frequentemente isso se traduz na afirmação de que elas não têm o "direito", "escolha" ou "opção" de sair do relacionamento se ele andar mal.
 
Isso não significa que uma escrava vai aceitar um relacionamento abusivo, embora seus limites de tolerância para o que é abusivo e o que não é parece mais alto do que na submissa. Essa crença de ser posse origina-se de um forte compromisso tanto no lado emocional quanto mental para com seu Dominante. Existe um nível de aceitação ao comportamento do Dominante que pode ser mais intenso e abrangente do que muitas submissas consentiriam. Por exemplo, um Dominante quer trazer um terceiro para dentro do relacionamento. Uma submissa exigirá que alguns critérios sejam observados antes de permitir (sim, permitir), donde uma escrava diria "está acima do meu alcance, se é o que o Senhor quer, então que seja", e resignadamente aceitar a mudança. Para alguns, esta forma de pensar é considerada errada ou instituída por meio de abuso, mas isso não é necessariamente verdade.
 
Uma escrava floresce no fato absoluto, de que elas literalmente não têm controle sobre o relacionamento ou o que vai acontecer nele, donde uma submissa frequentemente retém algum grau de controle sobre o relacionamento. Seu processo de pensamento foca somente no que faria o Senhor (a) mais contente e no como a escrava pode ser mais prazerosa a ele. Submissas tendem a pensar em si mesmas e seu próprio prazer em adição ao do seu Dominante. Escravas trabalham duro para porem-se em segundo lugar em todas as coisas, e seus Donos em primeiro. Para elas, isto é o que resulta de ser uma escrava e submeter-se completamente. Escravas se esforçam muito em conquistar uma paz interior com sua posição escolhida. Com essa paz, vem à aceitação de si mesmas, e um quieto senso de contentamento. Elas veem orgulho, arrogância e outras emoções como negativas e indesejadas em uma escrava.
 
O comportamento de uma escrava é diferente do de uma submissa também. Se você ouvir escravas falarem sobre seus comportamentos (ou assisti-las), elas normalmente falam sobre aceitação quieta, em controlar-se o tempo todo, formalidades, e outras coisas. Parece haver mais foco no como uma escrava se comporta em qualquer dado momento, com menos margem para ser diferente. Em muitos relacionamentos de escravidão, a escrava é exigida a usar o título do Dono ao endereçar-se a ele em qualquer situação, e não conceberiam chamar seu Dono por qualquer outro nome. A maioria das escravas acha gritar, crises de mau humor, ou de nervos ou qualquer outra forma de comportamento descontrolado da parte da escrava repreensível e meritória de punição severa. Escravas põem bastante ênfase no seu comportamento e no como reagem ao seu Dominante. Seguram-se em um alto nível de autocontrole. Cobram de si mesmas terem um comportamento prazeroso o máximo possível. Não veem margem para molecagem, qualquer forma de "topping from the bottom" (ditar cena) ou qualquer outra forma de manipular o Dominante. Geralmente veem molecagem como manipulação, choramingos, persuasão ou fazer pedidos novamente depois da primeira negativa como comportamento manipulador que se endereçam aos desejos necessidades da escrava ao invés do Dominante e logo, imprópria. Elas olham com desdém para qualquer comportamento que é dirigido a forçar o Dominante a encontrar uma finalidade da própria escrava, em lugar de focar-se na necessidade do Dono.
 
Uma escrava se esforça pela perfeição interior em completar todas as tarefas que o Mestre lhe dá, enquanto mantém uma parte da sua atenção em coisas que não foram solicitadas a fazer, mas acham que poderia agradar o Mestre se feitas. A uma escrava é requerido que seja bastante autossuficiente e hábil, pois frequentemente tem uma carga forte de responsabilidades. Escravas normalmente sentem que uma escrava não precisa ser orientada nos mínimos detalhes porque isso é enfadonho para seu Dominante, a menos que ele aprecie a meticulosidade. Uma escrava vai se comportar com o maior respeito em uma situação formal, e com todo o respeito que qualquer situação exija. (Por exemplo, um momento calmo em casa que não requeira um protocolo rígido, como uma festa formal iria).
 
Nenhuma dessas ênfases no comportamento significa que uma não pode ou não faz piada, relaxa ou entra em brincadeiras. Muitas escravas de fato fazem estas coisas. Fazem, contudo, com grande atenção à reação do Dominante e tomam cuidado para não serem deselegantes ou excessivamente sarcásticas. A menos é claro que o Dominante não aprecie este comportamento, então é melhor que ela o restrinja (o comportamento). (N.T.: O que pode ser bastante difícil, e em minha opinião pouco saudável, para alguém que tem naturalmente um senso de humor brincalhão como parte de sua personalidade) Então, por favor, não entenda que este artigo diz que escravas não se divertem, não têm senso de humor ou algo assim porque seria inverídico. Escravas têm personalidade como todo mundo, e se divertem com ela como todo mundo. Escravas apenas tendem a ser bem mais preocupadas com a reação do Dominante a estas atividades do que algumas submissas são. Elas também não usam seu senso de humor para provocar o Dominante a agir com elas, a menos que o Dominante aprecie este tipo de elemento na cena. Basicamente elas talham seu comportamento naquilo que o Dominante prefere, e sente-se mais confortável.
 
As expectativas de uma escrava acerca de seu Dominante e do relacionamento são frequentemente diferentes das de uma submissa. Uma escrava não espera satisfação de seus desejos para além de suas necessidades mais básicas. Quando o Dominante faz algo, além disto, para com elas, é visto como um presente, e não o preenchimento de uma necessidade. Escravas tendem a ver coisas que muitas submissas esperam em um relacionamento, como luxo e não necessidade. Isso não significa que uma escrava vai aceitar ser abusada ou tratada como inútil por longos períodos de tempo, apenas significa que elas não esperam todos os mimos que outros esperam de seus relacionamentos (como ganhar carinho sob solicitação, falar quando tiver vontade, dormir numa cama, etc).
 
Escravas sabem que seu relacionamento é difícil às vezes e que sua submissão não é fácil o tempo todo. Elas esperam serem solicitadas ou ordenadas a fazerem coisas que não vão necessariamente serem prazerosas para si porque seu foco não está na própria satisfação, mas na do seu Dominante. Esperam ser tratadas como escravas e não mimadas ou bajuladas. Elas esperam ser forçadas em seus limites e ter estes limites expandidos. Esperam preencher as expectativas de seus Dominantes e não verem seus Donos aceitarem qualquer manipulação ou desobediência. Elas esperam serem usadas na totalidade de seu talento ou mesmo serem treinadas para aumentar suas capacidades para preencher a necessidade do Dominante. Não esperam ser consultadas para cada decisão, ter sua opinião requisitada o tempo inteiro, ou algo parecido. Isso não significa que elas esperam ser ignoradas ou tratadas como se elas não importassem, elas apenas não esperam isso como uma parte corrente do relacionamento, apesar de muitas darem suas opiniões, sentimentos, isso é requisitado por seus Dominantes e eles irão frequentemente leva-las em conta quando tomarem decisões.
 
Uma escrava submete-se diferentemente de uma submissa também. Escravas não impõem limites à atividade dos Dominantes. Uma submissa vai frequentemente ter limites mais rígidos que o Dominante não consegue ultrapassar, e limites mais brandos que podem ser suprimidos com prévia negociação. Uma escrava não tem qualquer dos dois. Elas não vão dizer que o Dominante não pode engajar certo tipo de jogo ou usar um específico acessório. Elas podem dizer ao Dominante que não gostam desta ou aquela prática ou acessório no começo do relacionamento (preferencialmente antes do encoleiramento), mas não vão rejeitar o Dominante por fazer/usar tais coisas. Elas contam com a ideia de serem solicitadas a fazer coisas que não gostariam particularmente e consideram isso como parte do submeter-se, uma vez que seu conceito de submissão coloca a satisfação do Dominante em primeiro lugar, antes mesmo da própria. Muitas escravas dirão que por causa destes imperativos, uma escrava vai escolher um Dominante com quem tem mais afinidade, logo não vai lhe solicitar coisas que ela se nega terminantemente a fazer. Mas mesmo assim, a escrava espera que estes limites mudem com o tempo e aceitam que isto aconteça.
 
Uma escrava não acredita que possa simplesmente deixar o relacionamento. Algumas acreditam que depois de encoleiradas é para a vida, e não vão pedir soltura mesmo que sintam sua vida em perigo, ou sintam-se mentalmente/ fisicamente machucadas (nota do tradutor: isso é deveras improvável). Todavia, muitos relacionamentos têm diretrizes cabíveis para caso de soltura caso a escrava realmente deseje romper. Algumas escravas afirmam que uma escrava não pode ser abusada uma vez que o Dominante não tem limites na sua condução, e se o Dominante opta por agir de forma abusiva então seja feita sua vontade. Isso não parece ser o senso comum entre as escravas, porém também ocorre.
Muitas dessas diferenças se sobrepõem, e são aplicáveis a submissas também. Todavia, em sua totalidade elas existem para a maioria das escravas que tive contato. A escrava não é melhor que a submissa em minha opinião, meramente diferente.
 
Algumas destas características podem existir em uma submissa, ou mesmo todas elas. Estas diferenças básicas parecem existir no tocante aos limites da submissão. Uma escrava não os tem, uma submissa sim. A palavra que cada uma vai escolher para definir a si mesma segue uma questão de escolha pessoal, e minha intenção nesse artigo não é diferente. Em lugar disso, meu intento é de ajudar outros a entenderem a escrava um pouco melhor, e não as ver como desmioladas ou capachos, porque estas duas palavras não descrevem a maioria das escravas por opção de vida. Seja ou não a escravidão uma opção de vida saudável, é uma questão de escolha pessoal. Acredito que isso pode ser uma escolha muito saudável, ao passo que outros discordariam. Como em qualquer relacionamento onde a divisão de poder esteja colocada na ascendência de uma pessoa sobre outra, abusos podem acontecer. Contudo, eu não tenho base para afirmar que estes abusos ocorram mais com escravas do que com submissas, ou no BDSM de modo geral.
 
(Traduzido Por John Coltrane.)

Fico contrariada ao receber algumas ordens. Sou brat?

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Ser 24 x 7

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Dez anos e o blog voltou!!!

  Em 2008, quando eu ainda servia ao Senhor FA e me chamava Emanuelle, criei o blog Diário de Emanuelle com a intenção de traduzir em pal...