quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Por que 50 Tons de Cinza incomoda tanto?



Li todos os livros da trilogia 50 Tons (incluindo o escrito pelo ponto de vista do Grey). Assisti ao primeiro e ao segundo filme; não me interessei pelo último. O livro, aos olhos de um apreciador da boa leitura, é mal escrito e com um narrativa preguiçosa, previsível e com uma conclusão óbvia, ilustrando a clássica estória da Gata Borralheira, introduzindo nela uma pitada de fetiche. Lembrando que se trata de uma fanfic da série Crepúsculo, ou seja, não tinha como sair coisa muito boa. O filme, bem, é uma adaptação de um livro ruim, então não se podia esperar nada melhor (e a escolha daquele elenco insosso e sem sintonia também não ajudou em nada). O grande erro da comunidade BDSM é vê-lo como se fosse um documentário. Esquecem que se trata de uma atração holywoodiana e cumpre muito bem a sua função social: entreter o público baunilha e molhar calcinhas. 

Do ponto de vista do BDSM o filme não tem falhas. Mostra todo o contexto por trás do fetiche: há a negociação, a exposição dos limites (adoro quando ela fala que não aceita fisting e ele diz que talvez ela fosse gostar kkkkk,... menina boba), o contrato, o controle (tem muito Dominador tão controlador quanto o Grey), a masmorra, os acessórios, as práticas, a instigação dos sentidos, o sexo. Aos olhos de um praticante experiente que tenha lido o livro (porque no filme isso foi pouco trabalhado), enxerga-se até mesmo a figura do switcher, afinal o Grey foi submisso de Elena, que o introduziu ao BDSM para controlar seus impulsos violentos e problemas psicológicos (nada diferente do que vemos com muita gente que aparece por esse meio). Tem até mesmo a figura da ex-escrava psicótica (quem nunca teve o azar de conhecer uma Leila? kkkkkkkkkkkk). 

Pois bem, 50 Tons de Cinza introduziu com êxito para o grande público, de forma lúdica e sem desejo de chocar ninguém, todos os elementos do BDSM moderno ao recontar essa versão erótica da relação da Cinderela e do Príncipe Encantado. E, em consequência do grande sucesso, uma enorme parcela da sociedade baunilha tomou conhecimento da existência do BDSM e, pasmem, se interessou por ela. 

Claro que toda grande exposição tem seu bônus e seu ônus. 

O sadomasoquismo sempre foi visto como algo doentio e sujo, e era vivenciado apenas no submundo. Quem já leu um pouco sobre a história do BDSM no Brasil (muitos por aqui vivenciaram realmente esses fatos), já ouviu falar sobre prisões, batidas policiais nas festas em razão de denúncias, acusações infundadas (ou algumas nem tanto mas não vem ao caso rsrs) de pedofilia e escravidão forçada. O BDSM era, e (não se enganem) ainda é, alvo de julgamento social. O sadomasoquismo é classificado como doença no CID 10, ainda vigente (F65.5 lembra?). O próximo CID exclui o sadomasoquismo erótico, mantendo apenas o sadismo coercivo na lista de transtornos, resultado direto das lutas por aceitação pelas comunidades sadomasoquistas do exterior (principalmente da comunidade Leather). Mas essa mudança vai demorar muito para surtir efeito real. Acreditem, ainda seremos vistos como doentes por anos a fio pela comunidade médica e, consequentemente, pela sociedade. 

No meu ponto de vista, o filme 50 Tons de Cinza teve, a longo prazo, o mesmo efeito prático para a comunidade sadomasoquista (respeitadas, obviamente, as devidas proporções) do que os causados quando do lançamento da sigla SSC, na Marcha de Washington em 1987: mostrou para a sociedade baunilha que nós não somos pessoas insanas; somos apenas pessoas normais vivenciando os seus fetiches de forma segura e consensual. E esta visão é tão verdadeira que, quando Anastácia Stelle fala para o Grey que não deseja mais vivenciar aquilo, ele queima o contrato e ambos param de praticar o BDSM e passam apenas a ter uma relação baunilha, mantendo um pouco do erotismo da dominação somente como fetiche durante o sexo. 

50 Tons de Cinza conseguiu fazer com que uma grande parcela da sociedade visse o BDSM como uma imagem menos negra e ilustrando-a com mais tons de cinza (perdoem-me pelo trocadilho kkkk). Ele suavizou a visão crítica da sociedade sobre o tema. 

No meu aniversário de 40 anos, ganhei de presente da minha irmã de coleira um bolo totalmente decorado com elementos sadomasoquistas, até mesmo os cupcakes. Foi uma festa muito divertida e eu levei os cupcakes que sobraram para o trabalho. dei para o pessoal dizendo que meu aniversário foi com a decoração de 50 Tons de Cinza. Todos riram, acharam engraçado... mas não foi um choque. Ninguém me olhou como se eu fosse um demônio. Hoje eu uso coleiras na rua tranquilamente como um acessório (sem a guia, afinal não tenho o intuito de chocar ninguém). Hoje nós vemos elementos sadomasoquistas em comerciais de TV, na novela, em filmes. Ainda há julgamentos? Claro que há. Mas quem realmente pratica o BDSM sentiu sim essa diferença. Podem fazer cara feia... podem resmungar o quanto quiserem. Mas, sim, 50 Tons de Cinza tornou a nossa vida em sociedade mais leve. 

Muitos praticantes descobriram o sadomasoquismo através do filme. Conheço submissas e escravas excelentes que “são frutos do 50 Tons”, como dizem maldosamente. Veio gente boa, comprometida, com vontade de aprender e praticar de fato. Elas vieram com a mente aberta, estudaram, conheceram pessoas, praticaram, e estão por aí, felizes e vivenciando o melhor (e o pior) que o BDSM tem pra oferecer, afinal, nem tudo são flores. 

Mas, como eu disse, toda grande exposição tem também o seu ônus. Sempre que se abre um portão largo para a multidão, fica difícil de se controlar quem entra. Então era de se esperar que, no meio da grande massa, se encontrassem vários curiosos, moralistas, afoitos. Infelizmente, que também se infiltrassem abusadores, estelionatários e aproveitadores de todo tipo, afinal, gente de má índole temos na sociedade aos montes; então é algo proporcional. 

Essas pessoas se proliferam nas redes sociais. Entram no ônibus no meio da viagem e querem sentar na janela. Querem trazer as regras do mundo baunilha para o mundo BDSM e empurrar goela abaixo de quem já está aqui praticando faz tempo, que o que vivemos está errado, que tudo é abuso, que submisso tem o mesmo poder que Top. Querem impor as suas vontades e regras se sobrepondo ao que já existe, tumultuam e fazem uma grande confusão. Se confundem e tentam nos confundir. 

Particularmente, eu não me estresso mais com esse pessoal. Imagina um jogador de futebol de várzea que passou a jogar na primeira divisão. Ele não concorda com as regras de arbitragem, nem com as regras do jogo. Começa a fazer um tumulto no time. Ele pode até causar... mas uma hora vai começar, por força, a seguir as regras senão vai ficar sem time para jogar. No BDSM não dá pra tirar o jogador do campo mas, certamente, se ele começar a causar demais, a probabilidade dele jogar num time sério vai ser pequena. Praticantes sérios apenas riem de pessoas assim. 

Mas esses são fáceis de identificar... a maioria não sai das redes sociais, vangloriam relações virtuais. São agressivos quando tem suas opiniões confrontadas. Não tem base, não tem argumentos válidos que defendam suas teorias. E, no final, não passam disso mesmo: de teóricos; porque a vivência é quase zero. Apenas reproduzem o que lêem na internet com a sua visão distorcida. 

Contudo, mesmo com toda essa balbúrdia causada na internet, ainda penso que 50 Tons de Cinza teve efeitos muito mais positivos que negativos para a comunidade BDSM como um todo. Se a pessoa pratica sadomasoquismo de forma real, não se preocupa com os virtuais. Nos eventos, em suas casas, ainda reina a cordialidade, as regras e o BDSM continua mais vivo do que nunca. 

Ficou um pouco mais difícil de se encontrar alguém com quem praticar? Sim... ficou um pouco... mas meu primeiro Dono, lá em 2009 já me dizia uma frase que nunca esqueci: “Quem é de verdade, sabe reconhecer quem é de mentira”. Praticantes reais vão sempre se cruzar e vão continuar praticando BDSM. Os demais, podem continuar tentando mudar regras pela internet. 

OK... o Grey se apaixonou, largou o BDSM para viver com a Anastácia e a mulherada acha que vai conseguir dar o golpe do baú também... Ah... conheço casos semelhantes e o Top nem rico era... kkkkk... Se a Anastácia tivesse gostado da coisa, ele teria continuado sendo dominador e ambos continuariam se amando do mesmo jeito. Foi apenas a solução dada pela autora. O BDSM nunca foi o foco da estória e, sim, a relação amorosa entre Annastacia e Christian. O BDSM só estava ali para apimentar as cenas mesmo.

No mais, ainda queria ver essa estória contada pelo ponto de vista da Leila. Ela realmente era praticante, era escrava e se relacionava diretamente com o Grey-Dominador, que era seu Mestre, e não com o Grey-bau. Ela fala pra Anastacia "O Mestre, o Sr. Grey, ele permite que você o chame pelo seu nome"... Em outro momento ainda diz "Eu nunca dormi na cama do Mestre". Eu compreendo Leila... compreendo seu sofrimento... sua paixão... sua submissão... Mas essa versão certamente não venderia milhões de livros. A servidão real não é bonita e seria chocante demais para o grande publico.


Meus respeitos
Lilica de Mestre Gregório



sexta-feira, 17 de julho de 2020

Músicos aprendizes

(publicado na página no Facebook em 15/01/2020)



O BDSM é uma sinfonia com muitos acordes e melodias tocando ao mesmo tempo. E nós somos músicos aprendizes.

Quando chegamos às vezes buscamos uma melodia; demora pra vermos que a música toca de outra maneira.

Temos voracidade em tocar a música mas ainda sequer sabemos tocar o instrumento e isso nos faz cometer erros graves de execução.

Por não sabermos identificar as melodias, as vezes pensamos que um dos músicos está tocando certo e "colamos" nele. Com o tempo a gente descobre que ele também está fora dos acordes mas, até isso acontecer, tocamos uma boa parte da música de forma errada.

E somos castigados por isso.

Alguns nunca descobrirão a música toda... alguns preferirão tocar apenas a melodia principal, mais fácil.

Mas, se queremos conhecer a peça toda, teremos que estudar muito cada nuance dela.

Muitas e muitas vezes.

E é assim.

Vamos errar muitas vezes e vamos voltar a tocar a cada vez pois apenas com a prática nos tornaremos bons músicos.

E a música vai continuar a tocar.

Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

domingo, 12 de julho de 2020

Negociação, Consideração e a publicidade das relações na comunidade BDSM.



Dia desses, em um dos grupos que estou, uma submissa perguntou se, estando em negociação, já poderia chamar aquele Top de Dono perante a comunidade BDSM (principalmente na forma virtual nas redes sociais e grupos em comum).

Primeiramente, é bom esclarecer que tudo o que falo se trata de uma opinião pessoal. Não é uma determinação de regras, nem um manual litúrgico; é apenas a visão que tenho sobre o tema. Aviso dado, vamos ao post.

Já falei em um outro post neste blog que sou avessa à publicidade do início de uma conversação ou negociação pois estas fases são muito frágeis e passageiras. Normalmente, um praticante (seja Top ou bottom) inicia muitas conversações durante sua caminhada pelo BDSM. Destas, algumas se convertem em relações mas, a grande maioria, não passa da negociação. 
Inúmeras são as razões pelas quais uma negociação não dá continuidade, mas a principal é: uma parte não atende as necessidades ou expectativas da outra parte. É o famoso ditado "quando um não quer, dois não brigam". Mestre Gregório me disse logo nos primeiros dias em que estávamos conversando: "para esta relação dar certo, você tem que querer que ela dê certo".

Dada a efemeridade dessa fase, eu não vejo sentido em divulgar à comunidade com quantas pessoas eu comecei a conversar ou negociar. O que importa à comunidade quantas vezes eu tentei dar início a uma relação que não teve êxito?

Mas, Lilica, eu vejo nos grupos as pessoas anunciando negociações, postando fotos das sessões, o bottom chamando o Top de Dono, agradecendo imensamente a oportunidade de servi-lo. Passada duas semanas, acabou a negociação. Passa mais uma semana, o mesmo bottom anuncia o início de outra negociação e tá lá publicamente chamando outro Top de Dono da minha vida e, depois de uma semana, termina.
Eu confesso que, atualmente, quando cumprimento alguém, nem mando mais saudações para o Dono ou a posse porque eu nunca sei se a pessoa ainda tá com o fulano. As publicações de início e fim são tão rápidas que, se eu fico duas semanas sem acessar um grupo ou rede social, toda a situação já mudou rsrs.

Eu mesma já tive muitas conversações e muitas negociações infrutíferas, mas penso que chamar alguém de Dono é algo tão profundo, tão forte, que dar esse título a todo Dominador com quem apenas iniciei uma negociação me parece menosprezar a minha entrega.

Neste sentido, penso assim: quando um bottom chama o Top de Dono e esse Top começa a tratá-la realmente como posse, qual a lógica de se falar que ainda estão negociando? 
Pergunto isso porque, no meu ponto de vista, a negociação termina quando se tem a primeira sessão. 

Vejo a Negociação como o momento de colocar as cartas na mesa. Quando um Top e um bottom decidem fazer uma sessão, é sinal de que já se conheceram pessoalmente, que conversaram o tempo que acharam necessário onde foram expostos os limites, as preferências de ambos; já se sabe, mais ou menos, se ambos buscam os mesmos objetivos e a primeira sessão é o fechamento desse pré-acordo. 

A primeira sessão é o momento em que Top e bottom vão colocar em prática o que conversaram, vão perceber se há sinergia entre ambos, vão descobrir se realmente um atende à expectativa do outro. Na primeira sessão acontece uma avaliação mútua e ambos vão decidir interiormente se vale a pena ou não investir naquela relação. 

Tiveram a sessão e viram que querem dar prosseguimento na relação? Neste momento Top e bottom entram em avaliação/consideração. 

Quando em consideração, eles fazem sessões regularmente, se encontram, há tarefas... o Top vai apresentando na prática o que realmente espera do bottom; vai adestrando a seu gosto, aumentando a intensidade, a dificuldade, descobrindo a resposta do bottom aos comandos e os efeitos que todas essas coisas causam nele.
De igual forma, o bottom vai descobrindo as rotinas do Top, o que o agrada e o que o desagrada; analisando as próprias reações ao que está vivendo e, por fim, vai se "encaixando" nos parâmetros do Top, a que muitos chamam de "moldar".
É um momento de ajustes, adaptações, onde a relação vai tomando forma dentro dos moldes acordados na negociação.

Sei que muitos praticantes compreendem como negociação todo o tempo que ficaram juntos fazendo sessões até o encoleiramento. Por isso se ouve falar em negociações que duram meses ou até mesmo anos com ambos se tratando como Dono e posse. Esse período pelo qual passaram é justamente a Consideração ou Avaliação. Já comentei sobre isso em um outro post: a pessoa nomeando ou não as fases do relacionamento, elas estão todas lá... Se quer chamar toda a fase - da conversação até a consideração - apenas de negociação, está tudo bem. Na verdade, isso não tem nenhuma implicação prática na relação em si. 

No entanto, na minha opinião, perde-se muito do significado litúrgico e ritualístico da relação, pois o encoleiramento é a conclusão desse processo: é quando o Top decide que o bottom está realmente preparado para portar o nome dele; e isso tem um simbolismo muito forte. 
Mas sempre lembrando que "querer ou não" dar um caráter litúrgico à relação vai do interesse do Top. 

Explicada a minha compreensão sobre o que significa estar "em negociação", então voltamos à questão inicial do tópico com uma leve alteração: uma submissa que ainda não foi encoleirada pode chamar o Top de Dono?

Eu aprecio muito o seguinte pensamento: para um bottom se tornar posse, ele precisa já se portar como posse.

Você não deixa de ter obrigações com o Top ao estar em avaliação ou consideração... apenas ainda não ganhou o "direito" de carregar o nome do Dono definitivamente na sua coleira, assinatura social, ou qualquer símbolo que represente simbolicamente aquela Casa.

Se tornar posse não é uma chave liga/desliga; ela é uma construção interna que ocorre justamente na fase de avaliação/consideração. É, antes de tudo, uma mudança no estado psicológico, não apenas no status social. Antes de "estar" você precisa "ser".
E essa fase pode demorar meses... O tempo que o Top achar necessário para que você, bottom, esteja pronta para representar o nome dele. 

É isso que torna o Ritual do Encoleiramento tão especial: você andou numa estrada árdua, cheia de pedras e espinhos, para finalmente ter a honra de portar o nome dele; é o reconhecimento da sua dedicação, da sua entrega. É o compromisso integral que ambos assumem um com o outro: servo e Mestre.

Neste raciocínio, se o bottom já tem que se comportar como posse até poder se tornar posse definitivamente, por que razão ele não chamaria o Top de Dono? 

Apenas se for uma determinação expressa do Top para que o bottom não faça isso. Mas acho pouco provável que um Top exija tal coisa afinal, na fase de consideração, ele também já se porta como Dono e assim quer ser reconhecido publicamente (Exceto, é claro, aqueles que querem ocultar a existência de uma submissa em sua casa, sabe-se lá por qual razão... mas isto é assunto para outro post).

E quando que se considera o início real de uma D/s? 

Como me disse o Mestre Gregório uma vez: "desde o primeiro contato virtual pois eu já sabia que você seria minha" 🥰. 


Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Modelo de contrato BDSM

Numa época onde muito se discute a consensualidade nas relações sexuais, nada mais pertinente do que citar um item bastante presente e que envolve a fantasia de muitos casais que desejam praticar BDSM: o Contrato. 

No início deste ano, um advogado, ao protocolar uma petição inicial em um processo do Juizado Especial Cível de Cuiabá/MT, incluiu, dentre os documentos anexos, um contrato de submissão sexual muito parecido com o apresentado ao público na franquia 50 Tons de Cinzas, com detalhes digamos "picantes"... rs.

Aproveitando o ensejo vou trazer aqui um modelo de contrato de submissão que redigi a uns três anos... o fiz inspirada em vários modelos que encontrei na internet, inclusive na página do Carceireiro (nem sei se ela ainda existe), onde havia vários contratos registrados.

Existem contratos simples, em formato de declaração; outros mais complexos, com descrição de todas as práticas. 

Seja qual for o modelo escolhido, convém lembrar que um contrato de submissão não tem valor jurídico, sendo apenas um item de fetiche dos casais sadomasoquistas.


 submission contract


CONTRATO DE SUBMISSÃO

____________, doravante intitulado "DONO", firma o presente contrato com __________, doravante intitulada "escrava" neste contrato de submissão.

O ÚNICO E INALIENÁVEL DIREITO DA ESCRAVA É PODER DEIXAR DE SER ESCRAVA QUANDO QUISER, porém, enquanto estiver sob o domínio do DONO, ela deverá obedecer a todas as suas ordens e desejos, proporcionando-lhe todo o tipo de distração, prazer e conforto.
Ambos concordam e confirmam que tudo que ocorra sob os termos do presente contrato será consensual, confidencial e sujeito aos limites acordados e aos procedimentos de segurança estabelecidos no presente contrato. Limites e procedimentos de segurança adicionais poderão ser acordados por escrito.


1. Deveres da escrava
     1.1 A escrava declara que não mais terá decisões próprias nas coisas que faz ou precisa fazer.
     1.2 A escrava declara estar ciente do domínio do Dono 24 horas por dia, sete dias por semana, devendo prestar contas de todas as suas atividades diárias, com relatórios, fotografias ou o que mais o Dono exigir.
     1.3 A escrava declara estar inteiramente a disposição do Dono das noites de sexta-feira até as tardes de domingo todas as semanas, bem como nos feriados ou quando em gozo de férias, estando viagens ou passeios sujeitos à aprovação do Dono.
     1.4 Fica a escrava terminantemente proibida de:
        a) manter segredos para com seu Dono;
        b) desacatar ordens de seu Dono.
     1.5 A escrava declara ser propriedade exclusiva do Dono, estando terminantemente proibida de se submeter ou fazer sexo, ainda que virtual, com outra pessoa, assim como de manter contato com outros Dominadores sem autorização do Dono.
     1.6 A escrava declara que não esperará recompensa pelo bom comportamento, sabendo que esta é uma obrigação sua, aceitando ser punida quer seja insolente, desobediente, ou falhar em alguma tarefa, bem como pelo simples prazer do Dono, entendendo que a punição será sempre justa e para seu próprio aprimoramento como escrava, sem esquecer-se jamais de agradecer ao Dono pela punição aplicada. A escrava aceita humilhações públicas ou até mesmo ser oferecida para outros, confiando sempre no bom senso do Dono.
     1.7 A escrava declara que portará a coleira ou quaisquer outros símbolos de posse, em todo o momento, demonstrando ser propriedade do Dono, não os removendo em hipótese alguma.
     1.8 A escrava declara estar ciente de que o Dono poderá, a qualquer momento, adquirir novas escravas e fazer sessões com mais de uma escrava, conforme seu interesse e necessidade, participando ativamente dessas relações.


2. Deveres do Dono
     2.1 O Dono compromete-se a não prejudicar sua escrava profissionalmente e cuidar do seu objeto de prazer, atentando para não deixá-la com marcas permanentes ou a fazer uso de qualquer meio que coloque em risco a sua saúde, devendo prover o mínimo de conforto, porém o máximo de segurança.
     2.2 O Dono declara que sempre ouvirá a escrava e saberá a seu modo ser compreensivo com suas súplicas, analisando cada caso para saber se a escrava tem ou não razão.
     2.3 O Dono deve evitar, na medida do possível:
        a) Passar a escrava tarefas a serem cumpridas durante seu horário de trabalho;
        b) Deixar marcas de espancamento em partes visíveis do corpo da escrava, como rosto, braços e pescoço.
     2.4 O Dono pode dispor da escrava como melhor lhe aprouver podendo, inclusive, emprestá-la ou compartilhá-la, sempre prezando pela integridade física da escrava.


3. Safeword
     3.1 A Safeword utilizada nas cenas será: “___________” sendo o gesto de segurança combinado antecipadamente de acordo com a situação da cena.
Parágrafo único: Tudo isto na observância do bom senso do Dominador, pois mesmo sem a súplica através da safeword, valerá o bem físico de sua escrava. Cabe ao Dono, também zelar para que seja uma relação prazerosa para os envolvidos na cena.


4. Limites
A escrava tem como principais limites:
     4.1 Prática escatofílicas em geral, aceitando chuvas dourada e prateada.
     4.2 Práticas que envolvam asfixia erótica, mumificação ou uso de máscaras devem ser evitadas. A escrava declara que sofre de claustrofobia podendo estas práticas desencadear uma crise. Uso de vendas ou outros acessórios restritivos podem ser usados, devendo o Dono estar atento para as reações da escrava a fim de evitar crises.
     4.3 Práticas de zoofilia.

Parágrafo único - Fica estabelecido que o bom senso e o respeito mútuo serão as principais regras desse contrato.


domingo, 10 de maio de 2020

O Dominador pode me dar ordens ou punições durante a negociação?

Cena do filme A Secretária

Vamos imaginar a seguinte situação: você começa a conversar com um Dominador e, após algumas conversas, o interesse se torna mais palpável e vocês começam a negociar uma possível D/s. Papo vai, papo vem e, do nada, ele te dá uma tarefa. E agora?

Afinal, o Dominador pode dar ordens ou punições para uma submissa ainda na fase de negociação?

Vou responder a esta questão com um exemplo que gosto muito.

Na cidade goreana de Alkania, as kajirae (escravas goreanas) são classificadas por Silks, com cores diferentes, de acordo com sua proximidade, relação e treinamento. A kajira com grau mais alto é a Black Silk. Pois bem: para que uma kajira mude de silk, há funções e objetivos as quais ela precisa alcançar. 
Lá tem um ditado que diz mais ou menos assim: "Se comporte como a Silk em que você quer estar, e não como a que você está". Ou seja, para subir para uma silk superior você tem que agir como se já fosse uma.

Trouxe isso como aprendizado para o BDSM: se você está em negociação para uma possível D/s é porque tem interesse em se tornar posse. 

Então, se você quer se tornar uma posse, bom... tem que começar a agir como uma rs. 

As relações não tem uma chave liga/desliga; elas fluem. Começar a obedecer àquele a quem se deseja servir no futuro é algo natural, que brota do submisso. 

Óbvio que um submisso não vai sair obedecendo qualquer um que chegue no seu pv dando ordem. Mas, se a conversa desenvolveu o suficiente para ter um interesse mútuo, o certo é realmente agir de acordo com esse interesse, não?

Desenvolvido o real interesse, pra mim é simples: quer ser posse? Haja como posse.

Portanto, respondendo à pergunta: sim... ele pode dar tarefas. Se vai obedecer ou não, depende da vontade do submisso.

Desde quando comecei a conversar com Mestre Gregório, Ele gostava de me passar pequenas tarefas. 
Eu achava aquilo estranho... "nem meu Dono era e já queria me dar ordens"? Eu O indagava sobre qual o sentido daquelas tarefas; a resposta era "você pode se recusar a fazer, mas me deixará muito feliz se as fizer".

E assim foi... as negociações cessaram... já se passaram mais de dois anos e aqui nós estamos... ainda tenho tarefas mas, agora, eu sou a escrava e Ele é o Mestre; agora eu não posso mais me recusar a fazer... rs.

Entretanto, punições, a meu ver não cabem durante a negociação.

A punição do submisso que não aceita se submeter, é não ser dominado.

Portanto, não tem interesse em ser realmente dominado? Vá embora e não olhe para trás.

Bom... pra mim é isso.
Frisando: para mim é isso.


Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Devo chamar Top de Senhor ou Senhora? A hieraquia das posições.

Há assuntos muito recorrentes e polêmicos nos grupos de BDSM. Um deles é sobre a forma pela qual os bottoms devem tratar aos Tops. Afinal, bottoms devem tratar os Tops por Senhor ou Senhora?

Quando eu comecei a estudar BDSM, o primeiro conceito ao qual fui apresentada foi o de hierarquia e verticalidade.  

Esta é:


Dominadores (genericamente falando) estão no topo e submissos (também genericamente falando) estão na base da cadeia hierárquica. 
Eu aprendi a coisa de maneira bem simples: quem está na parte de baixo deve respeitar quem está na parte de cima. 

Uma submissa me falou esses dias que só trata um Top por Senhor ou Senhora quando ele ganha o respeito dela, afinal, como iria tratar com deferência alguém que ela nem sabe quem é e se merece tal distinção?

Eu, lilica, tenho justamente o pensamento inverso: quando sou apresentada a uma pessoa e recebo a informação de que se trata de um(a) Top, ela será tratada como tal, com o respeito inerente à posição. 

Eu chamo um Top de Senhor ou Senhora porque, dentro da comunidade em que vivemos há uma hierarquia. Eu até posso não gostar da pessoa X mas, se ela se comportar com respeito, será tratada com respeito.  Não quer dizer que quero servi-la, e sim que respeito a posição dela (Top) dentro da hierarquia da comunidade que estou.

Se ela passar a apresentar um comportamento inadequado à posição, eu simplesmente me afasto, afinal, quem não está agindo de acordo com a posição hierárquica é ela, não eu.
Porque eu me nivelaria por baixo? 
A minha postura é a minha postura... a do outro, bom, ele que lute... rs. 
A minha submissão é seletiva... a minha educação não é.

Gosto de fazer a analogia com os tribunais de justiça pela sua formalidade. 
No topo temos os Juízes e todos devem ser tratados com a mesma deferência, no entanto, ordens mesmo, recebo e cumpro apenas as do juiz a qual estou subordinada. 
Obviamente, juízes são pessoas e estas podem ser educadas ou mal educadas. Eu nunca vou bater de frente com um juiz por ele ser grosseiro, pois a hierarquia não me permite isso. 

Da mesma maneira no BDSM, existem Dominadores educados e mal educados e a hierarquia me obriga a atuar da mesma forma.

Quer falar com um juiz de igual para igual? Vira juiz.
Quer falar com um Top de igual para igual? Vira Top.

Mas uma coisa boa que se tem no BDSM (diferente dos Tribunais) é que você pode simplesmente ignorar o Top grosseiro e fingir que ele não existe ao invés de bater boca com ele. Não precisa aceitar desaforo ou carteirada se você não fala com a pessoa.  

Então, finalmente concluindo, a hierarquia se respeita de baixo pra cima, observando a verticalidade das posições. 

Respeito ao outro, no entanto, (ao que chamamos de educação) deve existir de Top pra bottom, de bottom pra Top e de Top pra Top. 
Educação vem de berço.

Bom... meu pensamento é esse.

Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

Entrevista no Grupo Confraria Sociedade BDSM

Olá, pessoal. 

Vida corrida: faculdade, trabalho, desânimo... mas vida que segue.
Faz tempo que não escrevo e nem posto nada aqui; mas dei uma entrevista no Grupo Confraria Sociedade BDSM no 22/03/2020 e gostaria de compartilhar com vocês.

Lembrando que tudo o que falo é opinião pessoal, baseada nas minhas experiências; não são verdades absolutas nem muito menos desejo de ditar regras. 

Boa leitura.


* Boa noite.
Vou fazer um breve resumo de mim.
Me chamo lilica de Mestre Gregório, tenho 41 anos, comecei a estudar BDSM em 2006, a praticar mesmo em 2009, porém me mantive afastada por alguns anos, retornando ao meio no final de 2016.
Tenho a honra de estar servindo ao Mestre Gregório a 2 anos e 5 meses.
Sou apaixonada pela liturgia e pelos protocolos, mas não sou escrava deles, pois as relações, como diz o Mestre, sofrem mutações.
Tenho um forte dogma sobre ao ser escrava eu sou posse, tanto que meu blog se chama Jus Possessionis, que é um termo jurídico que significa Direito de Posse.
Bom é isso. E obrigada pelo convite e oportunidade sobre dar a minha visão sobre a submissão. 🥰


Sociedade: o que compreende a liturgia e protocolos dentro do BDSM? 

* Bom... o BDSM não tem um livro de regras, infelizmente (ou felizmente, não sei mais... rs).
Mas, antes da lei, vem a norma, que é uma espécie de consenso geral não escrito, mas que existe; e todos sabem que existe. Podem chamar de protocolos; no Brasil, convencionou-se chamar de Liturgia.
Mas conceitos que compreendem a hierarquia e a verticalidade (com o ordenamento dos papéis Top, bottom e Switcher), as bases que incluem a consensualidade (SSC e suas ramificações), os formatos de relações, estudo prévio para realização das práticas, rituais que embelezam e dão simbologia aos atos. Tudo faz parte da liturgia.
Se pesquisarmos material estrangeiro veremos que há um consenso, um padrão que as pessoas seguem. Adapta-se uma coisa ou outra mas, no geral, os protocolos regem o BDSM para que possa ser praticado com segurança e prazer.


Sociedade: apesar de você ser adepta dos Protocolos/Liturgia concorda que o SSC não dá a segurança que algumas pessoas julgam ter ?

* Segurança é algo relativo. As pessoas traduzem o Segurança ao pé da letra, onde nada nunca dá errado. Isso certamente é uma falácia, afinal não há como prever 100% das situações. Os cuidados com a segurança são para minimizar os erros, não para isolá-los totalmente. Um bottom pode se mexer, uma corda pode quebrar, uma vela pode cair, um chicote pode reverberar... tanta coisa pode acontecer. Ninguém é Deus para prever tudo.


Sociedade: qual seria ao seu ver o dogma do ser escrava ou posse...?

* A escravidão no BDSM não é real, obviamente; ela é erótica. A lei não permite que se possa possuir literalmente uma pessoa. Por que ela é erótica? Porque eu tenho prazer em ser posse, em estar posse, em não ter direitos dentro daquela relação; e, principalmente, porque eu tenho a plena certeza de que se amanhã eu não quiser mais ser escrava, eu não sou mais.
No entanto, enquanto o Mestre estiver exercendo o seu Jus Possessionis erótico sobre mim, eu, como escrava, não devo ser nada além do que aquilo que eu me propus a ser: uma escrava. Então qual seria a lógica de questionar cada ordem, desobedecer? Eu não estaria sendo leal ao que eu quero ser: escrava.
Obviamente existem várias formas de se submeter (inclusive de não se submeter rs) mas, para mim, ser posse é isso: pertencer e obedecer.


Sociedade: Lilica, confesso que tenho muita dificuldade em aceitar algumas coisas e me submeter. Contemplo a submissão e jamais me vi empunhando um chicote, sempre me vejo recebendo os golpes. Não me importo em apanhar, mas a subserviência ainda é algo difícil de engolir.O que pode me ajudar nesse processo.

* Você precisa descobrir se realmente seu desejo é se submeter. A submissão é um desejo interno. Você pode ser apenas masoquista, desejar o prazer da dor. Eu, sinceramente, não acredito muito nesse negócio de forçar submissão, ou se aprender a submissão. Você pode despertar dentro de si algo que estava adormecido. Conhecer alguém a quem deseje realmente estar aos pés. Mas pode não acontecer. E isso não te torna melhor ou pior; apenas tem outra forma de querer praticar. BDSM não tem apenas D e S.


Sociedade: como vc vê o empréstimo de escravas entre os Nobres dentro do BDSM??

* Eu gosto.. sendo objeto não cabe a mim questionar a quem o Mestre me empresta. Mas é necessário um alto grau de confiança entre a posse e o Dono. A posse tem que confiar que o Dono não vai desejar nunca prejudicá-la; que tudo o que ele fará é para o crescimento dela como posse, como submissa.
Falo no feminino porque falo na minha pessoa, mas serve para os bottoms masculinos também.


Sociedade: Lembrando que submissão é diferente de subserviência, não é Lilica?

* Subserviência e submissão refletem a mesma coisa: ambas significam se submeter ou servir voluntariamente a alguém.
A diferença é que uma pessoa subserviente não questiona e faz o que mandam por medo de ser excluído, rejeitado.
Sua submissão é falsa e visa interesses mesquinhos.
Por sua vez, uma pessoa submissa, se submete pelo prazer de servir, pelo desejo de ver o outro bem. Uma pessoa submissa é humilde.
Uma pessoa subserviente é egoísta.
Então, embora ambas sejam submissões voluntárias, o que as diferencia é o objetivo: servir em prol do outro (submissão) e servir por medo do outro (subserviência).
Uma submissa no BDSM não pode ser subserviente. Porque senão ela acaba servindo ao primeiro que for mais autoritário com ela.


Sociedade: como você vê as submissas que vão além de seus limites pelo dono....

* Toda submissa tem o desejo de servir ao seu Dono de forma plena, ser a mais perfeita.
Isso é um erro comum; as vezes por medo de ser rejeitada, por medo de desgostar o Dono.
´Mas é um erro. Toda vez que uma submissa vai além do seu limite, ela está sendo desleal com o Dono e consigo mesma, pois as consequências a longo prazo podem ser desastrosas: tanto física quanto psicologicamente falando.


Sociedade: que sou uma sub disso eu não tenho duvida, não me vejo no comando, mas as vezes sinto uma vontade de dar uma leve desafiada, é normal isso em uma sub?

* Claro que é normal... é gostoso desafiar... ver até onde o Dono vai... a pergunta certa é: você realmente está preparada para descobrir isso? E outra: a pessoa com quem você está jogando também gosta desses desafios? A consensualidade tem que ser pro Top também kkkk. Se o Top não gosta de ser desafiado não é obrigado a jogar com alguém que o desafie o tempo todo, certo? Mas completando, temos aí as brats que não me deixam mentir.


Sociedade: mas escravo é ser subserviente.

* Na literalidade da palavra até é mesmo, Senhora. Mas a subserviência provém do medo de ser rejeitado; isso gera dependência, angústia.
A submissão voluntária é prazerosa... gera desejo, tesão. Submeter-se é entendimento de que aquilo vai lhe proporcionar algo bom.


Sociedade: Como vc vê as pessoas que pretendem ser submissas apenas em cenas ?

* Bom... nem só de DS vive o BDSM. Uma relação SM, pode ser TPE, PPE ou EPE. Nesta última Erotic Power Exchange, o jogo se dá apenas em cena ou sessão; fora delas não há Dominação ou Submissão. ambos seguem suas vidas normalmente.
É preciso abrir a mente para perceber que nem todas as relações BDSM são DS onde Top e bottom moram juntos ou estão juntos o tempo todo. Há vários formatos e todos são BDSM.


Sociedade: você acha que brat seja uma submissa?

* Para mim, brat é uma dinâmica dentro de uma relação. Ela é uma submissa que, dentro de sua dinâmica, gosta de brincar e desafiar. Ultimamente eu ando bastante brat kkkkkkkk... faço piadas, jogo indiretas... faz parte do nosso jeito. Não é porque sou escrava que sou uma Então, sim, pra mim brat é uma submissa que gosta de desafiar, mas todas se submetem.


Sociedade: Mas isso me faz uma brat?

* Se eu fosse você não me preocupava muito em se rotular. Seja você. Uma submissa não interpreta papéis, ela simplesmente é. O Top vai se interessar por você pelas suas qualidades e defeitos (que ele vai querer moldar), e isto que torna o jogo dinâmico. A única coisa que você não pode deixar nunca é de respeitar a hierarquia. O resto tudo flui. Com o tempo você descobre a sua forma de se submeter e se encaixa num dos inúmeros nomes que o povo dá por aí.


Sociedade: vemos o crescimento de muitos blogs e sites acham que todos estão preparados mesmo ou apenas querem ser notados e conhecidos no meio BDSM?

* Vou ser sincera: não leio praticamente nenhum mais. Nem sei o que dizem. Mal entro no meu kkkkkkkkk. (depois entrem lá).
Mas antigamente, quando eu lia, percebi uma coisa interessante: todos falavam a mesma coisa... era o mesmo texto... copy cola um do outro, ou traduções de textos estrangeiros na maioria das vezes sem referência nenhuma. Pouco material autoral.
Hoje todo mundo quer ser estrela no BDSM.. .todo mundo quer ganhar dinheiro, views, ser couch de BDSM.
A única coisa que eu aconselho a quem estiver estudando agora é tentar ver se há coerência nas coisas que lê (e ver se elas não são o mesmo texto apenas replicado dezenas de vezes).


Sociedade: Acho que sou adepta das EPE's... 🤔

* e tá lindo... você nem é obrigado a ter uma DS... pode fazer avulsas com quem confia e também está certo.


Sociedade: Mesmo dentro da relação SM existe hierarquia, o que você pensa dessas masocas rebeldes malucas que dizem viver o SM?

* Eu conheço e converso com poucas masocas. Confesso não conhecer o pensamento delas em relação a isso. Mas, para mim, lilica, na hora do jogo há hierarquia sim: uma pessoa está se submetendo a outra na prática.
Há um Top, há um bottom: ela está se sujeitando aos desejos do Top (que também são os dela).
Então há hierarquia.


Sociedade: falou pra não se definir nego bate palma, a primeira coisa que fiz quando entrei no BDSM foi escolher uma posição, agora não pode se definir ... viva loucamente.

* não foi o que eu disse... você se define dentro de uma posição... sou Top, sou bottom... mas aquele monte de rótulos que querem que as pessoas se encaixem que devem ser evitados.
Você é Top, ok; depois descobre se é Daddy, Tammer, Sádico, Rigger, Hunter.
Você é bottom, ok; depois de define se é escrava, submissa, brat, dorei, primal e afins
Foi isso o que eu disse sobre se definir.


Sociedade: agora ficou melhor ..

* As pessoas sempre sabem o que são... elas apenas tem medo... eu nunca tive dúvidas que queria me submeter... ao passo que um Top nunca teve duvidas de que seu desejo é dominar.
Algumas pessoas depois descobrem que gostam dos dois lados.
Mas Top, bottom e switcher é fácil.
Pra que esse monte de nome todo para subdividir cada um? peço desculpas se não havia sido clara neste sentido.
As iniciantes chegam hoje preocupadas em se encaixarem... sou brat? sou submissa? sou escrava? sou sei lá o que?
Pra que? apenas sejam vocês mesmas... curtam o desejo de servir... o seu jeitinho quem vai moldar é o Top.
Eu era um demônio... pior do que qualquer pseudobrat mal humorada por aí. Hoje sou uma princesa. 😇. Moldada pelas mãos do Mestre Gregório.


Sociedade: o que justifica esse medo de se dizer sub, agora todos que chegam já se dizem sw sem nunca terem sequer visto um flogger? Essas pessoas sabem o que é ser sw?

* Na verdade, eu vejo isso como um problema de interpretação.
Nós temos desejos que se sobressaem: alguns sentem prazer em serem subjulgados. outros sentem prazer em subjulgar.
O que se sobressair é aonde nos encaixamos primariamente.
Então se gosto de subjulgar me apresento como Top.
Se gosto de me submeter me apresento como bottom.
Com o passar do tempo, com a vivência, experiência, somos invariavelmente apresentados ao lado oposto.
Podemos não gostar e perceber que queremos ficar apenas no lado que escolhemos primeiramente.
E podemos ter prazer com o outro lado, descobrir mais e perceber que aquilo também agrada, daí nos descobrimos Switcher.
Mas hoje, pelo que percebi, em algumas mentorias que tive o (des)prazer de testemunhar, ensinam que, se você não sabe o que é você é switcher; depois você descobre se gosta mais de ser Top ou bottom.
Então não é que a pessoa chega e se apresenta como switcher: ela foi orientada por pessoas mais experientes a agir assim.
E quem sou eu para debater isso com os tais mentores?


Sociedade: tem pessoas que torcem o nariz para os rituais, mas mal sabem que os ritos começam antes da sessão, quais os rituais mais comuns que você conhece?

* As pessoas torcem o nariz para os rituais porque muita gente transforma os rituais em teatro.
Os rituais servem para enriquecer e dar simbologia Às relações; tornar as coisas mais bonitas.
Eu sou católica, estudei a simbologia por trás dos rituais e, por isso, eles se tornam mais ricos a cada celebração.
No BDSM, quando se compreende o significado dos rituais, ele torna as relações mais ricas também.
Rituais mesmo eu conheço dois: o de encoleiramento e o das rosas.

Eu sinto muito por se perderem o sentido dos rituais de encoleiramento. Hoje ele serve apenas para marcar território: esta aqui tá de coleira, tá comigo.
O encoleiramento é um compromisso.
Antes do encoleiramento tem a consideração (ou avaliação)... pode ter uma coleira também... é como se fosse um noivado... rs.
O encoleiramento seria o casamento. rs.
Uma escrava encoleirada carrega o nome do seu Dono para onde for. Tudo o que ela fizer será espelho do treinamento do seu Dono. Se ela errar, foi o Dono que errou. Se ela acertar, foi o Dono que acertou.
Muitas submissas não fazem ideia do que é a real responsabilidade de carregar o nome da casa se um Dominador.

O outro ritual que amo é o das Rosas...
Este é um ritual de confirmação. Tem origens místicas. Você faz um laço de sangue com o outro.
É um laço que ultrapassa a fronteira carnal e se torna espiritual. Mas, mais uma vez, as pessoas não fazem ideia do que estão fazendo kkkk
Fora isso, tem os rituais particulares de cada Dominador em sua casa.
Mestre tem posições em que devo recebê-lo, momentos em que posso falar, e que posso fazer ou não alguma coisa.
São rituais próprios e cada um tem o seu jeitinho... mas são gostosos esses rituais.


Sociedade: Eu não me considero brat, só tenho vontade as vezes de dar uma leve desafiada.

* ultimamente me apresento como escrava brat kkkkkkkk


Sociedade: deixa eu mandar pro Gregório isso

* Ele sabe kkkkkkkkkk


Sociedade: Tira uma duvida, escrava não tem voz, escrava não tem querer, como funciona isso em ser esctava-brat

* Essa estória de escrava brat é uma piada que se originou em outro grupo. Eu fiz a mesma colocação que falei aqui sobre o que penso sobre ser brat e a adm colocou uma brat no grupo para explicar pra gente o que era ser brat de verdade. Ela descreveu uma submissa tão perfeita que todas as submissas e masoquistas do grupo se identificaram como sendo brats.
Mas não leve a sério... não tem como eu ser brat com o Mestre... faço brincadeiras, dou risada, jogo olhar ousado... mas obedeço a tudo.
Deixa eu fazer um adendo interessante aqui... escrava tem voz sim, tem desejos sim...
A diferença é que ela poder falar ou ter seus desejos atendidos é poder discricionário do Dono... Como um Dominador vai te dominar se ele não conhece os seus medos e desejos?


Sociedade: Eu sempre tenho a impressão que toda sub quer sexo, mas que dono não quer se deixar levar...

* As pessoas tem que saber o que elas verdadeiramente buscam. Quando entrei no BDSM eu estava sim em busca de sexo hard. Demorei para entender que BDSM era mais do que sexo hard.
Uma vez, numa conversa de café da manhã com o Lord Segger (Studio SM), ele me falou uma frase que traduz perfeitamente o meu pensamento hoje: transformar o BDSM em uma preliminar de sexo é reduzir tudo o que fazemos a nada.
Mas, mais uma vez, as pessoas precisam ter consciência do que elas realmente buscam. Eu já fiquei dois, três meses ou mais sem sexo por ordem do Mestre Gregório. Se eu estivesse nessa relação pelo sexo, certamente ela já teria se fadado ao fracasso.


Sociedade: a velha historia sexo não é pratica mas não esta intrínseco nas praticas a sexualidade, sensualidade, erotismo ?

* As pessoas se preocupam demais com o sexo (coito).
BDSM é um jogo erótico... isso aqui não é religião.. é erótico, instinto animal... é cheiro, toque, tesão.
Tudo é voltado para o sexo.
O coito pode ou não existir a critério do Dono... pode-se usar o sexo até como humilhação.
E pode não ter sexo (coito) nenhum.
Ademais, eu sempre digo isso: depois que tive uma mão e um braço enfiado dentro de mim, acha que um pênis vai me fazer diferença? Kkkkkkkkkk


Sociedade: ué não é escrava? não é peça? normal usar pra algo sexual.

* O Dono usa a posse dele como e quando ele quer... ela é posse.. está ali pra isso: satisfazer.


Sociedade: acredita que exista um perfil de submissa para cada Top? Ou vice versa?

* Como o Mestre Gregório me disse uma vez, cada submissa é diferente. Não existe um padrão de submissa... cada uma é única com suas particularidades, desejos. O Top vai pegar aquela peça e adequá-la ao seu próprio desejo.


Sociedade: escravo é um estágio que o submisso alcança?

* não... são formas diferentes de se submeter... tenho um texto muito bom no blog que achei na internet e nunca localizei a fonte original, infelizmente, que faz uma diferenciação excelente entre submissos e escravos.
convido-os a ler posteriormente.


Sociedade: nunca achei que BDSM é uma preliminar do sexo e já ouvi o mesmo TOP dizendo isso com pesar. Ocorre que BDSM no meu entendimento tem um contexto erótico, que leva à busca do prazer, da satisfação - que pode ser sexual ou não. Sexo por sexo, podemos ter Na vida bau, em relacionamentos pautados fora do BDSM. Eu mesma lá atrás, quando tive meu primeiro contato fiquei bem confusa com tudo isso. Não é sexo hard que eu busco no BDSM, isso eu tenho fora. Procuro algo além, algo que me faça transcender. Isso existe mesmo ou criei muita expectativa?

* Nem tanto o céu, nem tanto a terra.
Pessoal fala muito desse negócio de submissão de alma... entrega incondicional... submissão sem limites.
Eu sou muito cética pra esse tipo de coisa.
Me submeto por prazer erótico. É o jogo que me agrada.


Sociedade: ninguém chega escravo, aos poucos abre mão dos seus desejos para servir, Não seria isso uma evolução?

* não penso assim... o pensamento do escravo é diferente do pensamento do submisso... são formas diferentes... eu nunca fui submissa... meu treinamento foi todo para a escravidão.... minha mente foi moldada nesse sentido.
Tem quem não precise disso. São apenas maneiras diferentes de se entregar.


Sociedade: mas tem quem se entregue pelo prazer de ver a Dona ter prazer, ou isso é algo mais masculino ?


* não... é o desejo de todo(a) escravo(a). Ele é posse e quer ver o seu Dono feliz.


Sociedade: mas você disse ser pelo erótico, eu tive escravo que não tinha recompensa além de me ver ter prazer.

* e isso não é erótico? ver o prazer do outro?
Ele não ficava excitado em lhe proporcionar prazer?
se não for erótico, se não há prazer, não é BDSM... é abuso. Rs
o prazer é além do toque.


Sociedade: existe no meio um certo pré conceito com relação a avulsas! Por que isso acontece? Quais os pontos positivos e negativos acerca de avulsas?

* Eu resumo isso a uma coisa: ranço baunilha kkkkk.
As pessoas tem uma ideia baunilha pré-concebida de que uma relação consiste em parceiros fixos e que qualquer pessoa que não tenha um parceiro fixo não presta, é galinha, não merece confiança.
É um dos preconceitos baunilhas mais bobos trazidos ao BDSM.
O BDSM é um jogo, tanto que o parceiro é chamado em inglês de playpartner.
Eu posso jogar com o meu namorado, com o meu esposo, com um ficante.
Eu posso jogar com quem eu quiser, desde que ambos tenham conhecimentos claros das regras do jogo.


Sociedade: Ser posse, é inclusive saber superar as distâncias. Lilica, fala um pouco sobre isso. Como superar as adversidades na relação?

* Muita submissa tem a falsa convicção de que, ao ter um Dono, ela vai ter sessão toda hora, o Dono vai estar disponível pra ela 24 horas por dia para quando ela quiser chamá-lo no whatsapp ou fazer uma ligação. Que todo final de semana estará enfurnada na casa do Dono e terão momentos de prazer e gozo como se não houvesse amanhã.
Mas não... o Dono é um homem comum, que trabalha, pode ter família, tem uma vida baunilha... pode inclusive ter outras posses além de você.
Ele não está disponível pra você e isso dói. Dono não é namorado e não é marido; não tem que dar satisfação do que faz e pra onde vai ou com quem está. E isso também dói.
Você está preparada para tudo isso? De que ao se submeter você pertence ao Dono e não Ele a você? Então caia de cabeça... rs


Sociedade: querida e sobre canil e irmã de coleira?
A sub que se envolve emocionalmente com o dono vai ter dificuldades com isso... pelo menos mas os dificuldades do que as subs que estão alí pelo jogo, ou não?

* O ciúmes é inerente da mulher. Eu sou terrivelmente ciumenta. Mas como você lida com esse ciúmes é que faz a diferença.
Eu tenho um pensamento bem particular de como funciona a relação em um canil.
Mestre Gregório tem duas relações: a Dele com a Lilica e a Dele com a Laika.
Eu, lilica, só tenho uma relação: a minha com o Mestre.
Não meto uma vírgula na relação do Mestre com a Laika e Laika não se intromete na minha relação com o Mestre.
Tive uma imensa sorte ao encontrá-la.
Mas todo o sucesso da nossa relação dar certo consiste em uma única coisa: ambas apenas querem ter prazer em servir. Mestre Gregório não tem envolvimento na minha relação com Laika; não força a nossa amizade.
Eu posso não ter contato com alguma outra submissa do Mestre; posso não ter amizade.
O principal problema é quando a outra submissa chega tentando forçar a relação, interferir na minha relação com o Mestre... aí eu viro o demônio kkkkkkkkkkkk.


Sociedade: Avulsas e bom ou não pra que iniciantes?

* Minha opinião pessoal: pra mim ninguém deveria começar em D/s.
D/s requer maturidade, auto conhecimento, conhecimento das práticas, do BDSM... coisas que vc desenvolve muito mais rapidamente nas cenas e sessões avulsas.
Mas, deixando bem claro novamente, essa é minha opinião.


Sociedade: saudações ao Gregório, agradeça em meu nome e do Sociedade, agradeço a vc por disponibilizar seu tempo, obrigada 😘🖤

* Eu que agradeço em nome da Casa Gregório a confiança e a oportunidade em compartilhar minhas experiências. Amei esse momento. Sou grata de coração.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Afinal, o Sadomasoquismo foi ou não excluído da CID?

Bom... vamos lá.

É longo, mas espero que todos possam ler pois é importante.

A 10ª edição do Cadastro Internacional de Doenças (CID 10), aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi lançado em maio de 1990, estando em vigor até hoje, e inclui lá no item F65 os chamados Transtornos de Preferência Sexual, também conhecidos como Parafilias, conforme segue:

F65.0 FETICHISMO
Utilização de objetos inanimados como estímulo da excitação e da satisfação sexual. Numerosos fetiches são prolongamentos do corpo, como por exemplo as vestimentas e os calçados. Outros exemplos comuns dizem respeito a uma textura particular como a borracha, o plástico ou o couro. Os objetos fetiches variam na sua importância de um indivíduo para o outro. Em certos casos servem simplesmente para reforçar a excitação sexual, atingida por condições normais (exemplo: pedir a seu parceiro que vista uma dada roupa).

F65.1 TRAVESTISMO FETICHISTA
Vestir roupas do sexo oposto, principalmente com o objetivo de obter excitação sexual e de criar a aparência de pessoa do sexo oposto. O travestismo fetichista se distingue do travestismo transexual pela sua associação clara com uma excitação sexual e pela necessidade de se remover as roupas uma vez que o orgasmo ocorra e haja declínio da excitação sexual. Pode ocorrer como fase preliminar no desenvolvimento do transexualismo.

F65.2 EXIBICIONISMO
Tendência recorrente ou persistente de expor seus órgãos genitais a estranhos (em geral do sexo oposto) ou a pessoas em locais públicos, sem desejar ou solicitar contato mais estreito. Há em geral, mas não constantemente, excitação sexual no momento da exibição e o ato é, em geral, seguido de masturbação.

F65.3 VOYEURISMO
Tendência recorrente ou persistente de observar pessoas em atividades sexuais ou íntimas como o tirar a roupa. Isto é realizado sem que a pessoa observada se aperceba de o sê-lo, e conduz geralmente à excitação sexual e masturbação.

F65.4 PEDOFILIA
Preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade.

F65.5 SADOMASOQUISMO
Preferência por um atividade sexual que implica dor, humilhação ou subserviência. Se o sujeito prefere ser o objeto de um tal estímulo fala-se de masoquismo; se prefere ser o executante, trata-se de sadismo. Comumente o indivíduo obtém a excitação sexual por comportamento tanto sádicos quanto masoquistas.

F65.6 TRANSTORNOS MÚLTIPLOS DA PREFERÊNCIA SEXUAL
Por vezes uma pessoa apresenta mais de uma anomalia da preferência sexual sem que nenhuma delas esteja em primeiro plano. A associação mais freqüente agrupa o fetichismo, o travestismo e o sadomasoquismo.

F65.8 OUTROS TRANSTORNOS DA PREFERÊNCIA SEXUAL
Diversas outras modalidades da preferência e do comportamento sexual tais como o fato de dizer obscenidade por telefone, esfregar-se contra outro em locais públicos com aglomeração, a atividade sexual com um animal, o emprego de estrangulamento ou anóxia para aumentar a excitação sexual.

F65.9 TRANSTORNO DA PREFERÊNCIA SEXUAL, NÃO ESPECIFICADO
Desvio sexual SOE


Ou seja, tudo o que que chamamos de "Fetiche" está englobado no grupo de Parafilias. É sobre este CID que hoje trabalham Psicólogos, Psiquiatras e outros agentes de saúde, então sim, de forma técnica , todos nós somos "doentes". Muitas discussões foram travadas, muitos desses fetiches já nem são tratados como doença, no entanto, estando ainda em vigor, a patologia se encontra lá descrita.

Em janeiro de 2022 entrará em vigor a 11ª Edição da CID, que trouxe importantes mudanças na classificação dos transtornos sexuais.

Os transtornos de preferência sexual passarão a ser chamados de Transtornos Parafílicos, “os quais envolvem interesses sexuais atípicos sem consentimento da outra parte e/ou que haja ameaça ou intimidação”.
A nova classificação deve excluir ainda as categorias “fetichismo” e “travestismo fetichista” e manter apenas a pedofilia e o sadismo, que configuram importância de saúde pública.
O item sadismo provavelmente será acrescido da palavra coercivo para diferenciar da prática de forma consensual. Espera-se que as propostas sugeridas melhorem a conceituação destas condições de saúde, promovam a melhoria do acesso aos serviços de saúde, a formulação de leis mais adequadas, políticas e padrões de atendimento e reduzam a discriminação”, disse Jair Mari.

Então:
1º - O Sadomasoquismo não foi excluído do CID como estão espalhando por aí. a prática coerciva ainda é considerada como patologia. !Parem de propagar essa informação!


2º - O Sadomasoquismo ainda estará lá lindo e pleno, na sessão 6D:
Distúrbios parafílicos 
6D30 Desordem exibicionista 
6D31 Transtorno voyeurístico
6D32 Transtorno pedofílico
6D33 Transtorno do sadismo sexual coercivo
6D34 Transtorno frotteurista
6D35 Outro transtorno parafílico que envolve indivíduos sem consentimento 
6D36 Transtorno parafílico que envolve comportamento solitário ou consentimento de indivíduos 
6D3Z Transtornos parafílicos não especificados 


3º -  O que mudou é a inclusão da "Consensualidade", base de todas as bases do BDSM que, quando assim aplicada, trata o sadomasoquismo como uma prática erótica.


É isso.

Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.


Fontes:

Dez anos e o blog voltou!!!

  Em 2008, quando eu ainda servia ao Senhor FA e me chamava Emanuelle, criei o blog Diário de Emanuelle com a intenção de traduzir em pal...