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terça-feira, 2 de novembro de 2021

Relação D/S x Relação Baunilha

Publicado em 31/05/2021 na página de Jus Possidendi no Facebook.


Hoje vi o seguinte questionamento:
Como saber diferenciar sua relação amorosa de sua relação D/s? Por qual motivo D/s não podem desenvolver uma relação amorosa?

Bom... para dar uma resposta satisfatória ao seu questionamento número 1 é preciso ter o entendimento/aprofundamento de três elementos que envolvem uma relação BDSM: a troca de poder, a verticalidade/hierarquia e a consensualidade.

Em sua base, estamos falando de uma RELAÇÃO ERÓTICA DE TROCA DE PODER (Power Exchange). Se trata, grosso modo, de uma dinâmica onde um indivíduo (bottom) cede/transfere consensualmente o poder de controle/ de fazer coisas sobre si a um outro indivíduo (Top). Essa troca pode ser integral (TPE), parcial (PPE) ou apenas no momento do encontro (EPE).

A Verticalidade é a DEFINIÇÃO CLARA das posições dos parceiros; um interage na posição de Top enquanto outro interage na posição de bottom (não se pode ter dúvidas de quem está no controle). Enquanto que a Hierarquia é a aceitação expressa de que UM DOS PARCEIROS TEM PODER SOBRE O OUTRO e que esse poder deve ser respeitado ENQUANTO A TROCA DE PODER ESTIVER ATIVA. É o clássico Top manda/bottom obedece... rsrs.

A Consensualidade envolve conhecimento (saber o que está fazendo ou no que está se envolvendo), capacidade de fato (ter total aptidão mental) e consentimento expresso. A consensualidade é parte integrante fundamental de todas as bases do BDSM (SSC, RACK, PRICK, CCC, etc).

Se você conseguir ter a perfeita compreensão dos conceitos por trás desses três elementos (Power Exchange, Verticalidade/Hierarquia e Consensualidade) você saberá diferenciar claramente uma relação baunilha de uma relação BDSM.

É preciso ter em mente que acrescentar práticas sadomasoquistas numa relação baunilha, não torna essa uma relação BDSM. Gostar de dar tapas na bunda da namorada, fazer uso eventual de elementos do bondage (como vendar ou amarrar as mãos) durante o ato sexual e querer controlar o que sua namorada/esposa veste/come/faz não torna ninguém um Dominador BDSM. Uma relação BDSM (seja Ds ou não) precisa ter esses elementos em conjunto, caso contrário, é apenas uma relação fetichista. E não; ser fetichista não é ruim. É apenas um outro formato de relação, tão prazerosa quanto. Se não há troca de poder, se não há hierarquia/verticalidade, se não há consensualidade, não é uma relação BDSM.

A impressão que tenho é que, hoje em dia, se dizer BDSMer se tornou uma espécie de status... sou da época em que se você falava que praticava sadomasoquismo era considerado doente (e até mesmo criminoso) kkkkkk.

Agora, quanto a pergunta número 2.

Ninguém diz que não pode haver uma relação amorosa em um relacionamento BDSM. Somos seres humanos e seres humanos se afeiçoam pelos outros em diversos níveis. Casais baunilhas descobrem o BDSM juntos e incorporam os elementos acima, convertendo seu relacionamento baunilha numa relação Ds. Dominador e submissa podem se apaixonar e namorarem, se casarem e constituírem família, sem perder o formato de relacionamento BDSM.

Indico um texto maravilhoso do Senhor Paulo Duarte que fala sobre o tema.

O problema é o foco. O foco do BDSM é o jogo erótico, não o amor romântico. Pode se encontrar um amor na comunidade BDSM, assim como pode se encontrar na Igreja, no trabalho, na faculdade, na fila da farmácia, no corredor do supermercado. Mas você não vai a esses lugares com esse objetivo. Ele apenas aconteceu quando duas pessoas se envolveram e suas relações se desenvolveram ao ponto de desejarem algo mais aprofundado.

O cerne da questão quando se debate sobre relações amorosas no BDSM, é que muitas pessoas carentes e frustradas em suas vidas baunilhas, chegam ao meio sadomasoquista em busca de algo que não é BDSM e fazem uma confusão sem tamanho em meio de pessoas que somente querem praticar BDSM.

Para suprir suas carências, querem incorporar elementos baunilhas nas relações com seus Tops e bottoms e, pior, querem empurrar esses conceitos como se fossem elementos do BDSM e verdades absolutas, deturpando a base (troca de poder, a verticalidade/hierarquia e a consensualidade). Aí a gente lê aberrações como bottom falando que uma relação BDSM pode ser horizontal onde ambos (Top e bottom) tem o mesmo nível de poder, e querendo controlar o Dominador falando pra ele o que pode ou não fazer.

Então, sim... Dominador e submissa podem ter uma relação amorosa, podem constituir família, podem manter uma relação monogâmica. Enquanto a troca de poder, a verticalidade/hierarquia e a consensualidade estiverem presentes na relação, ela ainda é uma relação Ds. Se houver uma quebra desses elementos, ela se torna uma prazerosa relação baunilha com elementos fetichistas, por que não? O importante é ambos estarem felizes.

Prefiro um casal baunilha apimentado ou reconhecidamente fetichista honesto e feliz a um casal pseudoBDSMer frustrado que querem impor sua relação baunilha como se fosse BDSM para serem aceitos pela comunidade como um todo.

Sempre deixando claro que esta é unicamente a minha visão do todo e não uma verdade absoluta (certamente muita gente discordará), e já pedindo desculpas por, novamente, ser excessivamente prolixa.

Meus respeitos.

simplesmente lilica

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Devo chamar Top de Senhor ou Senhora? A hieraquia das posições.

Há assuntos muito recorrentes e polêmicos nos grupos de BDSM. Um deles é sobre a forma pela qual os bottoms devem tratar aos Tops. Afinal, bottoms devem tratar os Tops por Senhor ou Senhora?

Quando eu comecei a estudar BDSM, o primeiro conceito ao qual fui apresentada foi o de hierarquia e verticalidade.  

Esta é:


Dominadores (genericamente falando) estão no topo e submissos (também genericamente falando) estão na base da cadeia hierárquica. 
Eu aprendi a coisa de maneira bem simples: quem está na parte de baixo deve respeitar quem está na parte de cima. 

Uma submissa me falou esses dias que só trata um Top por Senhor ou Senhora quando ele ganha o respeito dela, afinal, como iria tratar com deferência alguém que ela nem sabe quem é e se merece tal distinção?

Eu, lilica, tenho justamente o pensamento inverso: quando sou apresentada a uma pessoa e recebo a informação de que se trata de um(a) Top, ela será tratada como tal, com o respeito inerente à posição. 

Eu chamo um Top de Senhor ou Senhora porque, dentro da comunidade em que vivemos há uma hierarquia. Eu até posso não gostar da pessoa X mas, se ela se comportar com respeito, será tratada com respeito.  Não quer dizer que quero servi-la, e sim que respeito a posição dela (Top) dentro da hierarquia da comunidade que estou.

Se ela passar a apresentar um comportamento inadequado à posição, eu simplesmente me afasto, afinal, quem não está agindo de acordo com a posição hierárquica é ela, não eu.
Porque eu me nivelaria por baixo? 
A minha postura é a minha postura... a do outro, bom, ele que lute... rs. 
A minha submissão é seletiva... a minha educação não é.

Gosto de fazer a analogia com os tribunais de justiça pela sua formalidade. 
No topo temos os Juízes e todos devem ser tratados com a mesma deferência, no entanto, ordens mesmo, recebo e cumpro apenas as do juiz a qual estou subordinada. 
Obviamente, juízes são pessoas e estas podem ser educadas ou mal educadas. Eu nunca vou bater de frente com um juiz por ele ser grosseiro, pois a hierarquia não me permite isso. 

Da mesma maneira no BDSM, existem Dominadores educados e mal educados e a hierarquia me obriga a atuar da mesma forma.

Quer falar com um juiz de igual para igual? Vira juiz.
Quer falar com um Top de igual para igual? Vira Top.

Mas uma coisa boa que se tem no BDSM (diferente dos Tribunais) é que você pode simplesmente ignorar o Top grosseiro e fingir que ele não existe ao invés de bater boca com ele. Não precisa aceitar desaforo ou carteirada se você não fala com a pessoa.  

Então, finalmente concluindo, a hierarquia se respeita de baixo pra cima, observando a verticalidade das posições. 

Respeito ao outro, no entanto, (ao que chamamos de educação) deve existir de Top pra bottom, de bottom pra Top e de Top pra Top. 
Educação vem de berço.

Bom... meu pensamento é esse.

Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

Dez anos e o blog voltou!!!

  Em 2008, quando eu ainda servia ao Senhor FA e me chamava Emanuelle, criei o blog Diário de Emanuelle com a intenção de traduzir em pal...