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domingo, 12 de julho de 2020

Negociação, Consideração e a publicidade das relações na comunidade BDSM.



Dia desses, em um dos grupos que estou, uma submissa perguntou se, estando em negociação, já poderia chamar aquele Top de Dono perante a comunidade BDSM (principalmente na forma virtual nas redes sociais e grupos em comum).

Primeiramente, é bom esclarecer que tudo o que falo se trata de uma opinião pessoal. Não é uma determinação de regras, nem um manual litúrgico; é apenas a visão que tenho sobre o tema. Aviso dado, vamos ao post.

Já falei em um outro post neste blog que sou avessa à publicidade do início de uma conversação ou negociação pois estas fases são muito frágeis e passageiras. Normalmente, um praticante (seja Top ou bottom) inicia muitas conversações durante sua caminhada pelo BDSM. Destas, algumas se convertem em relações mas, a grande maioria, não passa da negociação. 
Inúmeras são as razões pelas quais uma negociação não dá continuidade, mas a principal é: uma parte não atende as necessidades ou expectativas da outra parte. É o famoso ditado "quando um não quer, dois não brigam". Mestre Gregório me disse logo nos primeiros dias em que estávamos conversando: "para esta relação dar certo, você tem que querer que ela dê certo".

Dada a efemeridade dessa fase, eu não vejo sentido em divulgar à comunidade com quantas pessoas eu comecei a conversar ou negociar. O que importa à comunidade quantas vezes eu tentei dar início a uma relação que não teve êxito?

Mas, Lilica, eu vejo nos grupos as pessoas anunciando negociações, postando fotos das sessões, o bottom chamando o Top de Dono, agradecendo imensamente a oportunidade de servi-lo. Passada duas semanas, acabou a negociação. Passa mais uma semana, o mesmo bottom anuncia o início de outra negociação e tá lá publicamente chamando outro Top de Dono da minha vida e, depois de uma semana, termina.
Eu confesso que, atualmente, quando cumprimento alguém, nem mando mais saudações para o Dono ou a posse porque eu nunca sei se a pessoa ainda tá com o fulano. As publicações de início e fim são tão rápidas que, se eu fico duas semanas sem acessar um grupo ou rede social, toda a situação já mudou rsrs.

Eu mesma já tive muitas conversações e muitas negociações infrutíferas, mas penso que chamar alguém de Dono é algo tão profundo, tão forte, que dar esse título a todo Dominador com quem apenas iniciei uma negociação me parece menosprezar a minha entrega.

Neste sentido, penso assim: quando um bottom chama o Top de Dono e esse Top começa a tratá-la realmente como posse, qual a lógica de se falar que ainda estão negociando? 
Pergunto isso porque, no meu ponto de vista, a negociação termina quando se tem a primeira sessão. 

Vejo a Negociação como o momento de colocar as cartas na mesa. Quando um Top e um bottom decidem fazer uma sessão, é sinal de que já se conheceram pessoalmente, que conversaram o tempo que acharam necessário onde foram expostos os limites, as preferências de ambos; já se sabe, mais ou menos, se ambos buscam os mesmos objetivos e a primeira sessão é o fechamento desse pré-acordo. 

A primeira sessão é o momento em que Top e bottom vão colocar em prática o que conversaram, vão perceber se há sinergia entre ambos, vão descobrir se realmente um atende à expectativa do outro. Na primeira sessão acontece uma avaliação mútua e ambos vão decidir interiormente se vale a pena ou não investir naquela relação. 

Tiveram a sessão e viram que querem dar prosseguimento na relação? Neste momento Top e bottom entram em avaliação/consideração. 

Quando em consideração, eles fazem sessões regularmente, se encontram, há tarefas... o Top vai apresentando na prática o que realmente espera do bottom; vai adestrando a seu gosto, aumentando a intensidade, a dificuldade, descobrindo a resposta do bottom aos comandos e os efeitos que todas essas coisas causam nele.
De igual forma, o bottom vai descobrindo as rotinas do Top, o que o agrada e o que o desagrada; analisando as próprias reações ao que está vivendo e, por fim, vai se "encaixando" nos parâmetros do Top, a que muitos chamam de "moldar".
É um momento de ajustes, adaptações, onde a relação vai tomando forma dentro dos moldes acordados na negociação.

Sei que muitos praticantes compreendem como negociação todo o tempo que ficaram juntos fazendo sessões até o encoleiramento. Por isso se ouve falar em negociações que duram meses ou até mesmo anos com ambos se tratando como Dono e posse. Esse período pelo qual passaram é justamente a Consideração ou Avaliação. Já comentei sobre isso em um outro post: a pessoa nomeando ou não as fases do relacionamento, elas estão todas lá... Se quer chamar toda a fase - da conversação até a consideração - apenas de negociação, está tudo bem. Na verdade, isso não tem nenhuma implicação prática na relação em si. 

No entanto, na minha opinião, perde-se muito do significado litúrgico e ritualístico da relação, pois o encoleiramento é a conclusão desse processo: é quando o Top decide que o bottom está realmente preparado para portar o nome dele; e isso tem um simbolismo muito forte. 
Mas sempre lembrando que "querer ou não" dar um caráter litúrgico à relação vai do interesse do Top. 

Explicada a minha compreensão sobre o que significa estar "em negociação", então voltamos à questão inicial do tópico com uma leve alteração: uma submissa que ainda não foi encoleirada pode chamar o Top de Dono?

Eu aprecio muito o seguinte pensamento: para um bottom se tornar posse, ele precisa já se portar como posse.

Você não deixa de ter obrigações com o Top ao estar em avaliação ou consideração... apenas ainda não ganhou o "direito" de carregar o nome do Dono definitivamente na sua coleira, assinatura social, ou qualquer símbolo que represente simbolicamente aquela Casa.

Se tornar posse não é uma chave liga/desliga; ela é uma construção interna que ocorre justamente na fase de avaliação/consideração. É, antes de tudo, uma mudança no estado psicológico, não apenas no status social. Antes de "estar" você precisa "ser".
E essa fase pode demorar meses... O tempo que o Top achar necessário para que você, bottom, esteja pronta para representar o nome dele. 

É isso que torna o Ritual do Encoleiramento tão especial: você andou numa estrada árdua, cheia de pedras e espinhos, para finalmente ter a honra de portar o nome dele; é o reconhecimento da sua dedicação, da sua entrega. É o compromisso integral que ambos assumem um com o outro: servo e Mestre.

Neste raciocínio, se o bottom já tem que se comportar como posse até poder se tornar posse definitivamente, por que razão ele não chamaria o Top de Dono? 

Apenas se for uma determinação expressa do Top para que o bottom não faça isso. Mas acho pouco provável que um Top exija tal coisa afinal, na fase de consideração, ele também já se porta como Dono e assim quer ser reconhecido publicamente (Exceto, é claro, aqueles que querem ocultar a existência de uma submissa em sua casa, sabe-se lá por qual razão... mas isto é assunto para outro post).

E quando que se considera o início real de uma D/s? 

Como me disse o Mestre Gregório uma vez: "desde o primeiro contato virtual pois eu já sabia que você seria minha" 🥰. 


Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório

domingo, 10 de maio de 2020

O Dominador pode me dar ordens ou punições durante a negociação?

Cena do filme A Secretária

Vamos imaginar a seguinte situação: você começa a conversar com um Dominador e, após algumas conversas, o interesse se torna mais palpável e vocês começam a negociar uma possível D/s. Papo vai, papo vem e, do nada, ele te dá uma tarefa. E agora?

Afinal, o Dominador pode dar ordens ou punições para uma submissa ainda na fase de negociação?

Vou responder a esta questão com um exemplo que gosto muito.

Na cidade goreana de Alkania, as kajirae (escravas goreanas) são classificadas por Silks, com cores diferentes, de acordo com sua proximidade, relação e treinamento. A kajira com grau mais alto é a Black Silk. Pois bem: para que uma kajira mude de silk, há funções e objetivos as quais ela precisa alcançar. 
Lá tem um ditado que diz mais ou menos assim: "Se comporte como a Silk em que você quer estar, e não como a que você está". Ou seja, para subir para uma silk superior você tem que agir como se já fosse uma.

Trouxe isso como aprendizado para o BDSM: se você está em negociação para uma possível D/s é porque tem interesse em se tornar posse. 

Então, se você quer se tornar uma posse, bom... tem que começar a agir como uma rs. 

As relações não tem uma chave liga/desliga; elas fluem. Começar a obedecer àquele a quem se deseja servir no futuro é algo natural, que brota do submisso. 

Óbvio que um submisso não vai sair obedecendo qualquer um que chegue no seu pv dando ordem. Mas, se a conversa desenvolveu o suficiente para ter um interesse mútuo, o certo é realmente agir de acordo com esse interesse, não?

Desenvolvido o real interesse, pra mim é simples: quer ser posse? Haja como posse.

Portanto, respondendo à pergunta: sim... ele pode dar tarefas. Se vai obedecer ou não, depende da vontade do submisso.

Desde quando comecei a conversar com Mestre Gregório, Ele gostava de me passar pequenas tarefas. 
Eu achava aquilo estranho... "nem meu Dono era e já queria me dar ordens"? Eu O indagava sobre qual o sentido daquelas tarefas; a resposta era "você pode se recusar a fazer, mas me deixará muito feliz se as fizer".

E assim foi... as negociações cessaram... já se passaram mais de dois anos e aqui nós estamos... ainda tenho tarefas mas, agora, eu sou a escrava e Ele é o Mestre; agora eu não posso mais me recusar a fazer... rs.

Entretanto, punições, a meu ver não cabem durante a negociação.

A punição do submisso que não aceita se submeter, é não ser dominado.

Portanto, não tem interesse em ser realmente dominado? Vá embora e não olhe para trás.

Bom... pra mim é isso.
Frisando: para mim é isso.


Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Conversar x Negociar

Dia desses estava conversando com um amigo Dominador sobre Negociações. Ele comentou comigo que, quando iniciou, não existia Conversação. As partes negociavam direto.

Propus, então, um debate usando, como exemplo, o diálogo hipotético abaixo.

- Dominador: bom dia, tudo bem? te vi no grupo tal e gosto das suas ideias. Vi que gosta de shibari. Sou shibarista. 
- Submissa: Olá senhor. Nossa. Eu amo shibari. Vejo o Senhor falando bastante sobre o assunto... fui amarrada várias vezes e estou estudando pois desejo me tornar uma dorei.
... trocam algumas fotos... falam mais sobre gostos, pessoas, referências...
- D:Eu sou de lugar Z e vc?
- S: Ah moro em Y.
- D: Legal, perto... podemos nos conhecer, falar um pouco sobre shibari. Tenho vários materiais.
- S: Ah.. claro Senhor... vamos conversando.
- D: vou trabalhar agora, depois nos falamos. Até mais.
- S: Até Senhor. Bom dia.

Isso é uma negociação? Não, isso é uma conversa.
Prossigamos...

O casal acima já está a algumas semanas papeando... nessas conversas já começaram a falar sobre interesses pessoais, detalhes da vida bau, para saber mais sobre o outro. Mas ainda não se conheceram.

Eles estão negociando? Não, ainda estão apenas conversando.

Dominador e submissa já perceberam que têm os mesmos interesses e gostam de conversar com uma frequência quase diária: várias vezes ao dia. O teor da conversa mudou um pouco... é mais aprofundado.
O Dominador percebe uma abertura na submissa.
Ela está bastante interessada naquele shibarista que pode lhe ensinar muito e gosta da maneira como ele a trata. Ela começa a respeitá-lo mais do que aos outros Dominadores com quem conversa. Tem vontade de passar mais tempo falando com ele do que com os outros.
Ambos já sabem um pouco mais sobre os desejos do outro e desejam se conhecer pessoalmente. Ou um encontro com amigos num bar lugar aberto ou num café apenas os dois. E a conversa migra pra este caminho.

E agora? Agora, sim, este Dominador e esta submissa abriram as portas para uma negociação.
É essa linha tênue que as pessoas não enxergam. Confunde-se conversar com negociar.
Conversar é conhecer.

Seres humanos, ao se conhecerem, estreitam conhecimento através do diálogo. Seja virtualmente, seja pessoalmente. Tudo começa da conversa; parte-se do cumprimento, fala-se sobre amenidades, até se descobrir algo em comum que faça com que se mantenha o interesse na conversa.
Conversação é a porta de entrada para se conhecer alguém.

Negociar no BDSM, falando do ponto de vista do bottom, significa se sentar com o Top e acordar o que pode ou não ser feito com o seu corpo ou o seu psicológico; do ponto de vista do Top, significa conhecer os limites aos quais ele não pode ultrapassar (ou deve ultrapassar com parcimônia).
Negociação você faz com quem você já conhece.

Conversar sobre práticas não significa que se está negociando sobre estas práticas.

Quando eu falo para Dominador Y que gosto de ser amarrada, não significa que estou falando pra este Dominador que quero ser amarrada por ele.

Comentei certa vez, em outro texto, sobre negociação miojo.
Comecei a conversar com um Dominador e logo percebi que nossos interesses não batiam e me despedi. Quando o Dominador falou: espero podermos dar continuidade nessa negociação.
Respondi: a gente só está conversando... não tem nenhuma negociação rolando aqui.
Está bem... reconheço que fui chata e, porque não dizer, grossa; afinal, ninguém é obrigado a se engessar em fases ou saber diferenciar o nome de cada uma.

Mas eu espero que a pessoa tenha um “feeling” para diferenciar uma simples conversa de uma negociação. Não se pode atropelar passos em relações. Não podemos fazer isso no baunilha, imagina no BDSM.

Conhecimento é a principal arma do submisso.

Meus respeitos.
lilica de Mestre Gregório

Dez anos e o blog voltou!!!

  Em 2008, quando eu ainda servia ao Senhor FA e me chamava Emanuelle, criei o blog Diário de Emanuelle com a intenção de traduzir em pal...