terça-feira, 2 de novembro de 2021

Relação D/S x Relação Baunilha

Publicado em 31/05/2021 na página de Jus Possidendi no Facebook.


Hoje vi o seguinte questionamento:
Como saber diferenciar sua relação amorosa de sua relação D/s? Por qual motivo D/s não podem desenvolver uma relação amorosa?

Bom... para dar uma resposta satisfatória ao seu questionamento número 1 é preciso ter o entendimento/aprofundamento de três elementos que envolvem uma relação BDSM: a troca de poder, a verticalidade/hierarquia e a consensualidade.

Em sua base, estamos falando de uma RELAÇÃO ERÓTICA DE TROCA DE PODER (Power Exchange). Se trata, grosso modo, de uma dinâmica onde um indivíduo (bottom) cede/transfere consensualmente o poder de controle/ de fazer coisas sobre si a um outro indivíduo (Top). Essa troca pode ser integral (TPE), parcial (PPE) ou apenas no momento do encontro (EPE).

A Verticalidade é a DEFINIÇÃO CLARA das posições dos parceiros; um interage na posição de Top enquanto outro interage na posição de bottom (não se pode ter dúvidas de quem está no controle). Enquanto que a Hierarquia é a aceitação expressa de que UM DOS PARCEIROS TEM PODER SOBRE O OUTRO e que esse poder deve ser respeitado ENQUANTO A TROCA DE PODER ESTIVER ATIVA. É o clássico Top manda/bottom obedece... rsrs.

A Consensualidade envolve conhecimento (saber o que está fazendo ou no que está se envolvendo), capacidade de fato (ter total aptidão mental) e consentimento expresso. A consensualidade é parte integrante fundamental de todas as bases do BDSM (SSC, RACK, PRICK, CCC, etc).

Se você conseguir ter a perfeita compreensão dos conceitos por trás desses três elementos (Power Exchange, Verticalidade/Hierarquia e Consensualidade) você saberá diferenciar claramente uma relação baunilha de uma relação BDSM.

É preciso ter em mente que acrescentar práticas sadomasoquistas numa relação baunilha, não torna essa uma relação BDSM. Gostar de dar tapas na bunda da namorada, fazer uso eventual de elementos do bondage (como vendar ou amarrar as mãos) durante o ato sexual e querer controlar o que sua namorada/esposa veste/come/faz não torna ninguém um Dominador BDSM. Uma relação BDSM (seja Ds ou não) precisa ter esses elementos em conjunto, caso contrário, é apenas uma relação fetichista. E não; ser fetichista não é ruim. É apenas um outro formato de relação, tão prazerosa quanto. Se não há troca de poder, se não há hierarquia/verticalidade, se não há consensualidade, não é uma relação BDSM.

A impressão que tenho é que, hoje em dia, se dizer BDSMer se tornou uma espécie de status... sou da época em que se você falava que praticava sadomasoquismo era considerado doente (e até mesmo criminoso) kkkkkk.

Agora, quanto a pergunta número 2.

Ninguém diz que não pode haver uma relação amorosa em um relacionamento BDSM. Somos seres humanos e seres humanos se afeiçoam pelos outros em diversos níveis. Casais baunilhas descobrem o BDSM juntos e incorporam os elementos acima, convertendo seu relacionamento baunilha numa relação Ds. Dominador e submissa podem se apaixonar e namorarem, se casarem e constituírem família, sem perder o formato de relacionamento BDSM.

Indico um texto maravilhoso do Senhor Paulo Duarte que fala sobre o tema.

O problema é o foco. O foco do BDSM é o jogo erótico, não o amor romântico. Pode se encontrar um amor na comunidade BDSM, assim como pode se encontrar na Igreja, no trabalho, na faculdade, na fila da farmácia, no corredor do supermercado. Mas você não vai a esses lugares com esse objetivo. Ele apenas aconteceu quando duas pessoas se envolveram e suas relações se desenvolveram ao ponto de desejarem algo mais aprofundado.

O cerne da questão quando se debate sobre relações amorosas no BDSM, é que muitas pessoas carentes e frustradas em suas vidas baunilhas, chegam ao meio sadomasoquista em busca de algo que não é BDSM e fazem uma confusão sem tamanho em meio de pessoas que somente querem praticar BDSM.

Para suprir suas carências, querem incorporar elementos baunilhas nas relações com seus Tops e bottoms e, pior, querem empurrar esses conceitos como se fossem elementos do BDSM e verdades absolutas, deturpando a base (troca de poder, a verticalidade/hierarquia e a consensualidade). Aí a gente lê aberrações como bottom falando que uma relação BDSM pode ser horizontal onde ambos (Top e bottom) tem o mesmo nível de poder, e querendo controlar o Dominador falando pra ele o que pode ou não fazer.

Então, sim... Dominador e submissa podem ter uma relação amorosa, podem constituir família, podem manter uma relação monogâmica. Enquanto a troca de poder, a verticalidade/hierarquia e a consensualidade estiverem presentes na relação, ela ainda é uma relação Ds. Se houver uma quebra desses elementos, ela se torna uma prazerosa relação baunilha com elementos fetichistas, por que não? O importante é ambos estarem felizes.

Prefiro um casal baunilha apimentado ou reconhecidamente fetichista honesto e feliz a um casal pseudoBDSMer frustrado que querem impor sua relação baunilha como se fosse BDSM para serem aceitos pela comunidade como um todo.

Sempre deixando claro que esta é unicamente a minha visão do todo e não uma verdade absoluta (certamente muita gente discordará), e já pedindo desculpas por, novamente, ser excessivamente prolixa.

Meus respeitos.

simplesmente lilica

sexta-feira, 16 de abril de 2021

A Psicologia da Escravidão: Entendendo a Escravidão Consensual

Eu li esse texto a muitos anos atrás na página Dominant Guide. Fiquei feliz em tê-lo guardado porque a página foi tirada do ar o que, honestamente, é uma pena pois tinha um rico conteúdo. Vou postar a tradução (by Google) para aqueles que se interessarem. 

A Psicologia da Escravidão: Entendendo a Escravidão Consensual
Por em 17 de dezembro de 2012


Este é um post convidado por Norische

O destino espera tanto pelo homem livre quanto por ele, escravizado pelo poder de outrem. - Ésquilo

Ao longo do tempo, milhões de pessoas lutaram e morreram para libertar seu irmão, amigo e filho das opressões da escravidão. Toda nação, todo país, toda cultura foi tocada pelo braço forte da escravidão involuntária; em nenhuma parte de nossa sociedade hoje você pode encontrar um homem cuja herança não tenha sido de alguma forma influenciada pelas correntes que prendem um escravo ao seu Mestre. Helen Keller afirmou que "não há rei que não tenha um escravo entre os seus antepassados ​​e nenhum escravo que não tenha tido um rei entre os seus".

Não é a situação do homem libertar os escravizados, iluminar os oprimidos e educar os ignorantes? Como é então que nós, como pessoas livres, nos esforçamos para escravizar aqueles que nos sentimos dignos de tal status? Como podemos tirar a liberdade de um indivíduo quando nós mesmos de bom grado damos a vida para libertar o outro? Homens e mulheres por gerações lutaram lado a lado para obter os direitos e liberdades que presentemente nos são tão caros; como podemos nós, em boa consciência, tirar aquilo que possuímos de tão alta estima.

Mesmo com todo o seu esplendor da iluminação e políticas pseudo-democráticas, este mundo é tudo menos gratuito. Com base em um conjunto de relatórios de organizações governamentais e não-governamentais, existem atualmente 27 milhões de indivíduos atualmente mantidos em escravidão não voluntária no mundo atual; entre 700.000 e 4 milhões de indivíduos foram trazidos para a América nos últimos 3 anos sozinhos. Escondido no fundo da camuflagem do trabalho barato ou imigrante; as pessoas estão sendo "contratadas" literalmente até a morte. Dentro do crime organizado, o tráfico humano é a segunda maior barulheira. O tráfico de seres humanos é o terceiro maior comércio ilegal do mundo, o que gera um lucro anual de US $ 5 bilhões a US $ 7 bilhões após o tráfico de drogas e armas. Crianças vendidas para suar lojas em países do terceiro mundo, mulheres jovens vendidas para bordéis, jovens vendidos para minas e fazendas, a lista é interminável. Mais de população e depressão financeira criou uma nova classe de indivíduos.

Em 1850, um escravo teria sido vendido pelo equivalente a US $ 40.000,00. Nas fazendas de trabalho escravo de hoje você pode comprar um indivíduo por apenas US $ 90,00. Esses indivíduos são considerados uma mercadoria descartável e encontram-se vivendo em condições horríveis, cheios de doença e morte. Hoje, muito da escravidão que existe em nosso mundo pode ser considerada escravidão econômica; uma mãe precisa de dinheiro para alimentar seus três filhos, então ela vende seu filho mais velho para uma mina para que ela possa ter o dinheiro para alimentar os outros dois. Infelizmente, quando esse dinheiro acabar, ela pode acabar vendendo outra criança, e outra até que seja deixada sozinha, sem outra opção senão entrar na escravidão sozinha. É um ciclo vicioso que leva a um longo caminho de sofrimento e desespero.

As definições da escravidão mudaram com o passar dos séculos. No passado, um escravo era considerado propriedade e tratado como se fosse um bom pedaço de mobília Chippendale. Você se certificaria de que eles tivessem comida, abrigo, e que eles fossem mantidos em boa saúde, afinal eles eram um investimento e você tinha que ter certeza que você tem o valor do seu dinheiro. Na sociedade civilizada de hoje, a escravidão assumiu vários novos significados. Em muitas áreas do mundo, a escravidão é comumente entendida como uma conotação negativa, algo atroz e desumano. Em outras áreas economicamente mais desafiadoras, a escravidão é vista como uma maneira economicamente viável de obter mão-de-obra barata ... nessas áreas, os escravos são vistos como descartáveis. Quando um indivíduo fica doente, fraco ou velho, ele é meramente descartado ou morto, na conveniência do proprietário do escravo; é muito mais barato comprar outro escravo do que comprar o remédio para manter um escravo saudável.

Com toda essa desumanidade afogando a sociedade civilizada em que vivemos hoje, como é que alguns indivíduos voluntariamente caem na escravidão? Como pode um indivíduo cuja herança é forjada lutar contra a opressão e a discriminação, de bom grado se permitir ser escravizado?


Afro-americano

Em 1509, uma expedição comercial de Portugal trouxe para a Flórida espanhola, os primeiros afro-americanos em nossa grande nação. Daquele dia em diante, os afro-americanos presentes nesta nação têm lutado por igualdade e liberdade. Depois de séculos de luta, é possível para um indivíduo se esforçar para voltar a uma coisa agora considerada imoral e desumana?

Quando um afro-americano decide abrir mão voluntariamente de sua liberdade e entrar na escravidão consensual, que tipo de trauma psicológico eles atravessam? Quando alguém que é de descendência africana faz esta escolha de vida, há muitas coisas que podem segurá-lo de volta. Mesmo que um indivíduo fosse capaz de discutir suas escolhas com sua família, eles sem dúvida encontrariam oposição bastante rígida; o mesmo pode ser esperado dos amigos. Pode não haver ninguém com quem falar seja de sua própria nacionalidade ou cultura, ninguém que não os condene por fazer uma escolha que não apóie seus pontos de vista. As pessoas não o verão como um indivíduo que busca o conforto de um colar e a maravilhosa alegria de ser chamado de escravo, eles verão um afro-americano sendo novamente preso à escravidão; a dificuldade será multiplicada se o Mestre ou a Senhora for Caucasiana. O mundo exterior verá o oprimido ser empurrado para baixo e esmagado sob o polegar duro do “Massa”.

Para aqueles que estão fora do domínio BDSM, existem muitas ideias que contradizem o orgulho e a satisfação de se tornar um escravo. Por exemplo: uma coleira não é algo para se orgulhar; é algo para se envergonhar, algo que nega séculos de luta e progresso. Ser liderado por um indivíduo em uma cadeia é degradante, não algo que pode ser feito com honra ou dignidade. Chamar alguém de mestre é moralmente errado, não é algo que você goste ou sonhe. Para admitir orgulhosamente ser um escravo é cuspir nos túmulos de todos aqueles que morreram lutando por sua liberdade. Aceitar voluntariamente a marca do seu Mestre é cortar sua própria garganta aos olhos da humanidade, um ato de barbárie e uma ofensa ao próprio Deus que lhe deu uma existência.

Samuel Adams declarou: "O direito à liberdade é o dom do Deus Todo-Poderoso, não está no poder do homem alienar esse dom e tornar-se voluntariamente um escravo".

Enfrentando toda essa oposição, não é evidente a força interior que deve estar presente para que alguém, de bom grado, desista de tudo o que lhe é caro, tudo o que acalenta, para trocar séculos de herança por uma pequena faixa de couro. O coração de um escravo não é enrugado, carente de atenção, assustado pelas realidades cruéis que devemos enfrentar em nosso mundo hoje. Não, pelo contrário, o coração de um escravo está transbordando de honra, dedicação e orgulho; batendo forte tanto para o escravo quanto para o Mestre / Mestra, vivendo a cada segundo com o pleno conhecimento de que eles são estimados e conhecendo bem o seu lugar dentro deste universo.

Agora é possível entender mais claramente a turbulência psicológica que um escravo deve passar? É agora claramente visível que não se entra facilmente nesta devoção? Você compreende agora a oposição que cada escravo deve enfrentar antes de se ajoelhar pela primeira vez diante de seu dono?

Fêmeas

Dois terços de todos os indivíduos analfabetos são do sexo feminino. 70% dos pobres do mundo são mulheres, enquanto as mulheres representam apenas 1% dos ricos do mundo. As mulheres recebem 30% a 40% menos que os empregados do sexo masculino, embora as estatísticas mostrem que elas trabalham 67% das horas de trabalho do mundo. 840 milhões de pessoas desnutridas em todo o mundo, 450 milhões de mulheres em idade reprodutiva são desabilitadas devido à desnutrição, embora as mulheres produzam 80% dos alimentos na África e 50% dos alimentos no sul da Ásia.

As mulheres não receberam o direito de voto até a 16ª emenda, que foi ratificada em 16 de agosto de 1920; negros, ex-escravos, receberam o direito de voto em 1863. As mulheres são vistas como cidadãos de segunda classe há séculos.

Susan B. Anthony foi uma das mais fortes defensoras dos direitos das mulheres em meados do século XIX e é uma figura representativa desse tipo politicamente orientado de feministas. . Em 1872, ela foi presa depois de ter votado "ilegalmente" na eleição presidencial. Ela foi multada em US $ 100, mas se recusou a pagar. Ela fez esse discurso em 1873.

"Amigos e concidadãos: Eu estou diante de vocês nesta noite sob acusação pelo suposto crime de ter votado na última eleição presidencial, sem ter um direito legítimo de votar. Este será meu trabalho esta noite para provar a você que, ao votar, eu não apenas cometi nenhum crime, mas, em vez disso, simplesmente exerci meus direitos de cidadão, garantidos a mim e a todos os cidadãos dos Estados Unidos pela Constituição Nacional, além do poder de qualquer estado a negar."

O preâmbulo da Constituição Federal diz:

“Nós, o povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma união mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade doméstica, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral e assegurar as bênçãos da liberdade a nós mesmos e à nossa posteridade. ordenar e estabelecer esta Constituição para os Estados Unidos da América. ”

Nós éramos as pessoas; não nós, os cidadãos brancos do sexo masculino; nem ainda nós, os cidadãos do sexo masculino; mas nós, todo o povo, formamos a União. E nós o formamos, não para dar as bênçãos da liberdade, mas para protegê-los; não para a metade de nós mesmos e para a metade de nossa posteridade, mas para todo o povo - tanto mulheres quanto homens. E é uma completa zombaria falar às mulheres sobre o gozo das bênçãos da liberdade, enquanto lhes é negado o uso dos únicos meios de assegurá-las fornecidas por este governo democrático-republicano - a cédula.

Para qualquer estado fazer sexo, uma qualificação que deve sempre resultar na privação de direitos de uma metade inteira do povo é aprovar um projeto de lei, ou uma lei ex post facto, e é, portanto, uma violação da lei suprema da terra. Por isso, as bênçãos da liberdade são para sempre retidas das mulheres e de sua posteridade feminina.

Para eles, este governo não tem poderes justos derivados do consentimento dos governados. Para eles, esse governo não é uma democracia. Não é uma república. É uma aristocracia odiosa; uma odiada oligarquia do sexo; a aristocracia mais odiosa já estabelecida na face do globo; uma oligarquia de riqueza, onde os ricos governam os pobres. Uma oligarquia de aprendizagem, onde os educados governam os ignorantes, ou até mesmo uma oligarquia de raça, onde o saxão governa o africano, pode ser suportada; mas essa oligarquia do sexo, que faz pai, irmãos, marido, filhos, oligarcas sobre a mãe e irmãs, a esposa e filhas, de toda casa - que ordena todos os homens soberanos, todas mulheres súditos, carrega discórdia, discórdia e rebelião em todos os lares da nação.

Webster, Worcester e Bouvier definem um cidadão como uma pessoa nos Estados Unidos, com direito a voto e mandato.

A única questão que resta a ser resolvida agora é: as mulheres são pessoas? E eu dificilmente acredito que qualquer um de nossos oponentes tenha a dureza de dizer que eles não são. Sendo pessoas, então, as mulheres são cidadãs; e nenhum estado tem o direito de fazer qualquer lei, ou fazer cumprir qualquer lei antiga, que abrevie seus privilégios ou imunidades. Portanto, toda discriminação contra as mulheres nas constituições e leis dos vários estados é hoje nula e sem efeito, exatamente como é cada um contra os negros.

Depois que mulheres como essa sofreram pela liberdade, marcharam por direitos iguais e pularam os degraus da Casa Branca, como é que uma mulher pode se ajoelhar aos pés de um homem? Como pode uma mulher ousar ignorar a opressão, a degradação e a humilhação de décadas de tratamento subumano? Pode uma mulher em toda boa consciência permitir que outra a reivindique como propriedade quando as mulheres durante séculos lutaram para quebrar o ciclo de servidão?

Com toda a opressão que afastou as mulheres e as forçou a aceitar as poucas opções que lhes foram oferecidas, é possível se ajoelhar diante de alguém sem sentir o peso do mundo sobre seus ombros. Desistindo da oportunidade de alcançar a grandeza em troca da oportunidade de usar uma coleira, de propriedade ... não igual, uma posse ou uma bugiganga para ser exibida.

Com a luta constante pela igualdade na sociedade de hoje, é um grande sacrifício para uma mulher desistir dessa igualdade em troca da certeza de ser propriedade. Encontrar consolo em desistir da própria individualidade em troca das fronteiras e exigências colocadas em você por outra pessoa é visto, em sua maioria, como um claro sinal de insanidade.

Agora é possível entender mais claramente a turbulência psicológica que um escravo deve passar? É agora claramente visível que não se entra facilmente nesta devoção? Você compreende agora a oposição que cada escravo deve enfrentar antes de se ajoelhar pela primeira vez diante de seu dono?

Machos

Em um mundo cercado pela supremacia masculina, não é blasfêmia que um homem se ajoelhe aos pés de uma mulher? Como pode um homem de todo bom consciente dar tudo o que ele tão legitimamente conquistou, humilhar-se às profundezas mais indescritíveis de sua existência? Como se atreve um homem a se abaixar para beijar o sapato de outro?

A partir do momento em que uma criança tem idade suficiente para aprender, a sociedade começa a moldar sua mente em seus próprios padrões de pensamento. O homem e a mulher estão enraizados na mente de uma criança; os papéis e características específicas que são aceitáveis ​​para cada gênero são alimentados a eles diariamente. Os homens devem ser os líderes, os fortes e os inteligentes. As mulheres devem ser as mais fracas, recatadas e emocionais. Um macho brinca com caminhões e armas enquanto uma fêmea brinca com bonecas e jogos de chá. Os ideais fossilizados dessa sociedade não deixam espaço para o pensamento independente ou o individualismo. Um homem que brinca com bonecos é rotulado como gay, ou um maricas mesmo em uma idade tão precoce. Uma fêmea que deseja subir em árvores e praticar esportes é rotulada de moleque.

A sociedade tem uma ordem estrita do que é aceitável em todas as formas de vida quando se trata de gênero. Se um homem é sexualmente ativo em idade precoce, ele é um “garanhão”, mas espera-se que as fêmeas permaneçam virgens até o dia do casamento. Espera-se que um homem consiga um emprego que pague bem, enquanto se espera que uma mulher se case com um homem bom. Espera-se que um homem seja o chefe de sua família e “use calças em sua família”; Espera-se que uma mulher seja uma esposa leal e obediente. Espera-se que um homem seja analítico e sem emoção, enquanto se espera que uma fêmea seja incontrolável e um vulcão emocional.

O ideal da superioridade masculina toca todos os domínios da vida, do político ao espiritual, do físico ao financeiro. Os políticos são normalmente considerados em um quadro masculino. O papa, cardeais, bispos e rabinos são todos do sexo masculino. Presume-se que os homens sejam mais fortes, mais inteligentes e mais estáveis ​​que as mulheres. Dentro do mundo financeiro, os homens ganham em média 30 a 40% a mais em salários do que as mulheres.

Com todas essas forças direcionando um macho para estar no poder, como pode um homem desistir desse poder e se ajoelhar diante de outro. Como pode um homem se despir de gerações de comportamentos estereotipados e de repente desistir de toda a sua autoridade para a vontade de outro? O ato de entregar não irá emascular um homem dentro da própria sociedade? Não é submissão ou escravidão o ato de castração social? Como então pode um homem pegar tudo o que ele foi criado para acreditar, a própria origem de sua persona e atirá-lo para o privilégio de se ajoelhar aos pés de seu Mestre / Senhora?

Agora é possível entender mais claramente a turbulência psicológica que um escravo deve passar? É agora claramente visível que não se entra facilmente nesta devoção? Você compreende agora a oposição que cada escravo deve enfrentar antes de se ajoelhar pela primeira vez diante de seu dono?

Cada indivíduo que toma a decisão de se tornar escravo está lutando contra gerações de condicionamento. Desistir de sua mente, corpo e alma para outro não pode ser tomada de ânimo leve. Com cada escravo chega um ponto em que devem examinar seu papel na sociedade. Eles devem olhar para quem são e entender o que as escolhas que fazem significam, não apenas para si mesmos, mas também para a sociedade em geral.

Há aqueles que afirmam que a escravidão é uma saída covarde, um meio de escapar da realidade e renunciar a responsabilidade para outra. Há alguns que podem ver a escravidão como algo fácil, mas o que eles não vêem é a verdadeira natureza da escravidão. A escravidão é vista pela maioria das sociedades civilizadas como sendo uma conotação negativa. Por gerações lutamos para nos libertar da escravidão, para nos livrar da discriminação e para nos elevar acima do nível daqueles que consideram a vida humana tão irrelevante. Homens e mulheres de todas as raças, todas as idades e todas as nacionalidades morreram para que pudéssemos ter liberdade. Como ousamos abandonar seu sacrifício e retornar aos papéis de Mestre / Senhora e Escrava?

Talvez quando levamos em consideração aqueles que morreram por nossas liberdades, devemos também reconhecer o fato de que essas mesmas liberdades que temos tão preciosas são nossas para manter ou para dar como acharmos melhor. Como alguém se atreve a nos dizer que não temos o direito de doar nossa própria liberdade; que, se por consentimento informado, entregamos nosso poder a outro, não temos o direito de fazê-lo. Como se atrevem a manter a liberdade em padrões tão elevados, mas se recusam a nos permitir o direito de fazer com nossas vidas o que escolhemos. Se somos verdadeiramente livres, temos o direito de ser Mestre/Mestra ou Escravo/Sub como entendermos.

A verdadeira natureza de um escravo

A verdadeira natureza de um escravo é uma maravilha prismática de honra, orgulho e auto-sacrifício. Dentro de toda a sua glória e cercado de dedicação, obediência e infinita paciência, um escravo é verdadeiramente um com o universo. Um escravo tem uma grande necessidade de estrutura e forma, mas também almeja flexibilidade e aceitação. Um escravo não busca reconhecimento, nem prêmio por dedicação; eles desinteressadamente se entregam e pedem apenas que lhes seja permitido servir.

Não há nada tão maravilhoso a ponto de olhar nos olhos de seu escravo e ver o reflexo de seu coração exposto diante de você. Eu nunca conheci o orgulho até ver os olhos da minha escrava. Para entender naquele momento, é por causa do meu escravo que me é permitido ser quem desejo ser, um amante.

Há uma pureza de espírito dentro de um escravo que pode ser igualada por nada mais. Há um senso de respeito e honra que não conhece limites. Um orgulho que mostra para todos verem e uma compreensão de si que está além da maioria. Um escravo deve conhecer a si mesmo e deve estar seguro em quem eles são e em todas as escolhas que eles fazem para servir. Quando um escravo se ajoelha em um pé de Mestre / Amante e olha para aqueles olhos, eles sabem, sem sombra de dúvida, que são exatamente quem desejam ser. Mesmo em um mundo tão dedicado a forçar sua vontade sobre eles, aos pés de seus Mestres/Mestras eles conhecem a liberdade.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Cuidado para sua Ds à distância não se converter numa Ds virtual

 


Vi uma pergunta sobre Ds a distância.

Bom..  já vivi Ds à distância por quilometragem e já vivi Ds à distância por rotina e falta de disponibilidade do Top em encontrar pessoalmente mesmo morando próximo. Fiz muitas tarefas sozinha no silêncio da minha casa para entregar por vídeo e por foto. 

Tem um ditado antigo que diz "cabeça vazia, oficina do diabo". Manter a mente do submisso em estado de atenção é importante para que ele saiba que é necessário, que o Top sente prazer nas pequenas tarefas. 

Mas é preciso muito critério para que as necessidades do submisso estejam sendo supridos. 

Embora tenha sim pessoas que se satisfaçam somente com a virtualidade (sem entrar no mérito se é BDSM ou não), essa não é a realidade da maioria dos bottoms. A grande maioria quer e precisa sentir o olhar, o toque, o cheiro, a presença física do(a) seu(sua) Senhor(a). 

É preciso equilibrar as coisas e não usar da virtualidade para encobrir uma falha de condução. Não tem tempo ou condições para conduzir uma relação presencial? DEIXE MUITO CLARO que a relação será a maior parte pela virtualidade. 

• Não fique prometendo que vai encontrar o bottom mas esse dia nunca chega. 

• Não faça promessas vãs.

• Não dê tarefas com horário determinado e apenas veja dois dias depois.

• Não fique dias sem falar com o seu submisso resumindo a conversa ao bom dia/boa noite.

• Não resuma a submissão do bottom a uma live de punhetagem mútua.

São pequenas coisinhas que vão gerando frustração. 

Eu poderia fazer uma lista enorme de coisas que não deveriam acontecer numa Ds à distância mas acontecem.

Hoje, pessoalmente, prefiro ser playpartner com amigos a viver uma relação onde nunca (ou raramente) veja o Top, só pra dizer que tenho uma coleira.

Sinceramente, não consigo entender o que passa pela cabeça de um ser humano que vê o meu álbum de fotos no Verdugo ou no Fetlife, recheado com práticas que eu fiz, e me pergunta se eu aceito ser escrava virtual dele. 

Apenas repito: não tem tempo ou condições para conduzir uma relação onde estará presente pelo menos a cada 15 dias? Seja honesto. 

Não faça com que submissos que QUEIRAM PRATICAR percam o seu tempo.

Cace quem se contente com o pouco que vc tem pra oferecer.

E, principalmente, não chegue em praticantes BDSM presenciais e ofereça a sua virtualidade. 

A GENTE NÃO QUER. 


Meus respeitos.

Simplesmente Lilica 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

A religião pode interferir na sua escolha dentro do universo BDSM?

*Pergunta feita no grupo Essência Submissa, no Facebook.

Êxtase de Santa Teresa
Escultura de Gian Lorenzo Bernini

"Vi um anjo perto de mim, do meu lado esquerdo, em forma corpórea. (...) Ele não era grande, mas de pequena estatura e muito bonito. (...) Vi em sua mão uma longa lança de ouro e, na ponta do ferro, parecia haver um pequeno fogo. Ele me pareceu estar empurrando-o às vezes em meu coração e perfurando minhas próprias entranhas; quando ele puxou para fora, ele parecia atraí-los também, e me deixar toda em chamas com um grande amor de Deus. A dor era tão grande que me fez gemer; e, no entanto, tão extraordinária era a doçura dessa dor excessiva, que eu não podia querer me livrar dela. A alma está satisfeita agora com nada menos que Deus. A dor não é corporal, mas espiritual; embora o corpo tenha sua parte nele. É uma carícia de amor tão doce que agora acontece entre a alma e Deus, que eu oro a Deus por Sua bondade para fazê-lo experimentar aquilo que pode pensar que estou mentindo. Durante os dias em que isso durou, era como se Ele estivesse ao meu lado. Eu não queria ver ou falar com ninguém,  apenas acalentar minha dor, que era para mim uma felicidade maior do que todas as coisas criadas."
Trecho da autobiografia, "A vida de Teresa de Jesus".


Olha... depende do quão profundamente o dogma de sua religião é arraigado no seu consciente. A maioria das religiões vêem o erotismo como pecado e a busca pelo prazer erótico como o caminho para este pecado.

Mas o que vc extrai da sua religião? O dogma ou o amor de Deus? (não importa o nome que vc dê a ele)... Como vocé encara a sua religião?

Você, por exemplo, prega a fidelidade conjugal mas usa sexualmente outras submissas?
Sua religião é monogâmica mas você não vê problema em ter vários parceiros?
Você prega o amor ao próximo mas passa o tempo maldizendo e julgando outros BDSMers?

Se você prega um dogma, mas age contra ele, vc é um hipócrita, no sentido estrito dessa palavra. E se você é temente a este dogma, você sabe onde vai parar (seja qual for a visão de inferno que sua religião tenha).

Aliás, vc teme o dogma da sua religião? Acredita no que ela prega? 
Ou apenas vai a igreja para cumprir tabela? O que também te torna um hipócrita.

Ou você somente ama a Deus (mais uma vez não importa o nome que sua religião dê a ele), ou acredita na sinergia do universo, e sabe que suas escolhas individuais, desde que não prejudiquem a outras pessoas, não são da conta de ninguém?

Portanto, a resposta a essa pergunta depende apenas do como você enxerga a sua religiosidade e o quão enraizados estão no seu espírito os dogmas da sua religião.

Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório

É possível aprender sobre BDSM sozinho na internet?


Babosa espiral - Aloe Polyphylla
Jardineiro.net
Imagem meramente ilustrativa


Conhecer sobre BDSM, sua história (origem e evolução), as bases, formato de relações, informações sobre as principais práticas, limites, liturgia, hierarquia e verticalidade, a psicologia por trás da submissão e dominação, redflags, negociações e mais tantos outros tópicos é algo que uma pessoa pode fazer sozinha tranquilamente, ou sob a orientação de alguma pessoa mais experiente na comunidade. 

Obviamente, só se desenvolve a servidão ao servir, da mesma forma que só se desenvolve a dominação ao dominar. Mas base teórica é razoavelmente fácil de se conseguir por qualquer pessoa que saiba usar a internet para além das redes sociais. 

A internet é um imenso oceano de informações. Livros em pdf, sites, blogs, grupos, tudo está disponível gratuitamente e, com um pouco de boa vontade e um pequeno grau de conhecimento sobre os mecanismos de buscas, você consegue ter acesso a tudo o que precisar. 

Buscar livros e sites confiáveis é muito importante, principalmente, para separar o joio do trigo nas conversas virtuais pelas redes sociais. 

Eu sei que num mundo onde as pessoas se limitam a 140 caracteres no Twitter (agora são 280 né), encontrar pessoas que apreciem a leitura de um livro ou um bom texto é um esforço hercúleo. 

Hoje em dia as pessoas querem as coisas todas já mastigadas. O resumo do resumo do resumo. Eu me lembro que, quando estudava, eu pesquisava termos em inglês e traduzia com ajuda do Altavista (alguém lembra dele?)... e as traduções não chegavam nem perto da qualidade de tradução que o Google oferece hoje. A impressão que tenho é que, quando a informação ficou mais fácil, ela perdeu o valor. 

Mas é isso. 

O conhecimento é maior arma de uma pessoa. Você apenas saberá se alguém está plantando um pé de babosa no seu jardim, se souber diferenciar as baboseiras das demais plantas lá existentes. 

Meus respeitos
Lilica de Mestre Gregório.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Por que 50 Tons de Cinza incomoda tanto?



Li todos os livros da trilogia 50 Tons (incluindo o escrito pelo ponto de vista do Grey). Assisti ao primeiro e ao segundo filme; não me interessei pelo último. O livro, aos olhos de um apreciador da boa leitura, é mal escrito e com um narrativa preguiçosa, previsível e com uma conclusão óbvia, ilustrando a clássica estória da Gata Borralheira, introduzindo nela uma pitada de fetiche. Lembrando que se trata de uma fanfic da série Crepúsculo, ou seja, não tinha como sair coisa muito boa. O filme, bem, é uma adaptação de um livro ruim, então não se podia esperar nada melhor (e a escolha daquele elenco insosso e sem sintonia também não ajudou em nada). O grande erro da comunidade BDSM é vê-lo como se fosse um documentário. Esquecem que se trata de uma atração holywoodiana e cumpre muito bem a sua função social: entreter o público baunilha e molhar calcinhas. 

Do ponto de vista do BDSM o filme não tem falhas. Mostra todo o contexto por trás do fetiche: há a negociação, a exposição dos limites (adoro quando ela fala que não aceita fisting e ele diz que talvez ela fosse gostar kkkkk,... menina boba), o contrato, o controle (tem muito Dominador tão controlador quanto o Grey), a masmorra, os acessórios, as práticas, a instigação dos sentidos, o sexo. Aos olhos de um praticante experiente que tenha lido o livro (porque no filme isso foi pouco trabalhado), enxerga-se até mesmo a figura do switcher, afinal o Grey foi submisso de Elena, que o introduziu ao BDSM para controlar seus impulsos violentos e problemas psicológicos (nada diferente do que vemos com muita gente que aparece por esse meio). Tem até mesmo a figura da ex-escrava psicótica (quem nunca teve o azar de conhecer uma Leila? kkkkkkkkkkkk). 

Pois bem, 50 Tons de Cinza introduziu com êxito para o grande público, de forma lúdica e sem desejo de chocar ninguém, todos os elementos do BDSM moderno ao recontar essa versão erótica da relação da Cinderela e do Príncipe Encantado. E, em consequência do grande sucesso, uma enorme parcela da sociedade baunilha tomou conhecimento da existência do BDSM e, pasmem, se interessou por ela. 

Claro que toda grande exposição tem seu bônus e seu ônus. 

O sadomasoquismo sempre foi visto como algo doentio e sujo, e era vivenciado apenas no submundo. Quem já leu um pouco sobre a história do BDSM no Brasil (muitos por aqui vivenciaram realmente esses fatos), já ouviu falar sobre prisões, batidas policiais nas festas em razão de denúncias, acusações infundadas (ou algumas nem tanto mas não vem ao caso rsrs) de pedofilia e escravidão forçada. O BDSM era, e (não se enganem) ainda é, alvo de julgamento social. O sadomasoquismo é classificado como doença no CID 10, ainda vigente (F65.5 lembra?). O próximo CID exclui o sadomasoquismo erótico, mantendo apenas o sadismo coercivo na lista de transtornos, resultado direto das lutas por aceitação pelas comunidades sadomasoquistas do exterior (principalmente da comunidade Leather). Mas essa mudança vai demorar muito para surtir efeito real. Acreditem, ainda seremos vistos como doentes por anos a fio pela comunidade médica e, consequentemente, pela sociedade. 

No meu ponto de vista, o filme 50 Tons de Cinza teve, a longo prazo, o mesmo efeito prático para a comunidade sadomasoquista (respeitadas, obviamente, as devidas proporções) do que os causados quando do lançamento da sigla SSC, na Marcha de Washington em 1987: mostrou para a sociedade baunilha que nós não somos pessoas insanas; somos apenas pessoas normais vivenciando os seus fetiches de forma segura e consensual. E esta visão é tão verdadeira que, quando Anastácia Stelle fala para o Grey que não deseja mais vivenciar aquilo, ele queima o contrato e ambos param de praticar o BDSM e passam apenas a ter uma relação baunilha, mantendo um pouco do erotismo da dominação somente como fetiche durante o sexo. 

50 Tons de Cinza conseguiu fazer com que uma grande parcela da sociedade visse o BDSM como uma imagem menos negra e ilustrando-a com mais tons de cinza (perdoem-me pelo trocadilho kkkk). Ele suavizou a visão crítica da sociedade sobre o tema. 

No meu aniversário de 40 anos, ganhei de presente da minha irmã de coleira um bolo totalmente decorado com elementos sadomasoquistas, até mesmo os cupcakes. Foi uma festa muito divertida e eu levei os cupcakes que sobraram para o trabalho. dei para o pessoal dizendo que meu aniversário foi com a decoração de 50 Tons de Cinza. Todos riram, acharam engraçado... mas não foi um choque. Ninguém me olhou como se eu fosse um demônio. Hoje eu uso coleiras na rua tranquilamente como um acessório (sem a guia, afinal não tenho o intuito de chocar ninguém). Hoje nós vemos elementos sadomasoquistas em comerciais de TV, na novela, em filmes. Ainda há julgamentos? Claro que há. Mas quem realmente pratica o BDSM sentiu sim essa diferença. Podem fazer cara feia... podem resmungar o quanto quiserem. Mas, sim, 50 Tons de Cinza tornou a nossa vida em sociedade mais leve. 

Muitos praticantes descobriram o sadomasoquismo através do filme. Conheço submissas e escravas excelentes que “são frutos do 50 Tons”, como dizem maldosamente. Veio gente boa, comprometida, com vontade de aprender e praticar de fato. Elas vieram com a mente aberta, estudaram, conheceram pessoas, praticaram, e estão por aí, felizes e vivenciando o melhor (e o pior) que o BDSM tem pra oferecer, afinal, nem tudo são flores. 

Mas, como eu disse, toda grande exposição tem também o seu ônus. Sempre que se abre um portão largo para a multidão, fica difícil de se controlar quem entra. Então era de se esperar que, no meio da grande massa, se encontrassem vários curiosos, moralistas, afoitos. Infelizmente, que também se infiltrassem abusadores, estelionatários e aproveitadores de todo tipo, afinal, gente de má índole temos na sociedade aos montes; então é algo proporcional. 

Essas pessoas se proliferam nas redes sociais. Entram no ônibus no meio da viagem e querem sentar na janela. Querem trazer as regras do mundo baunilha para o mundo BDSM e empurrar goela abaixo de quem já está aqui praticando faz tempo, que o que vivemos está errado, que tudo é abuso, que submisso tem o mesmo poder que Top. Querem impor as suas vontades e regras se sobrepondo ao que já existe, tumultuam e fazem uma grande confusão. Se confundem e tentam nos confundir. 

Particularmente, eu não me estresso mais com esse pessoal. Imagina um jogador de futebol de várzea que passou a jogar na primeira divisão. Ele não concorda com as regras de arbitragem, nem com as regras do jogo. Começa a fazer um tumulto no time. Ele pode até causar... mas uma hora vai começar, por força, a seguir as regras senão vai ficar sem time para jogar. No BDSM não dá pra tirar o jogador do campo mas, certamente, se ele começar a causar demais, a probabilidade dele jogar num time sério vai ser pequena. Praticantes sérios apenas riem de pessoas assim. 

Mas esses são fáceis de identificar... a maioria não sai das redes sociais, vangloriam relações virtuais. São agressivos quando tem suas opiniões confrontadas. Não tem base, não tem argumentos válidos que defendam suas teorias. E, no final, não passam disso mesmo: de teóricos; porque a vivência é quase zero. Apenas reproduzem o que lêem na internet com a sua visão distorcida. 

Contudo, mesmo com toda essa balbúrdia causada na internet, ainda penso que 50 Tons de Cinza teve efeitos muito mais positivos que negativos para a comunidade BDSM como um todo. Se a pessoa pratica sadomasoquismo de forma real, não se preocupa com os virtuais. Nos eventos, em suas casas, ainda reina a cordialidade, as regras e o BDSM continua mais vivo do que nunca. 

Ficou um pouco mais difícil de se encontrar alguém com quem praticar? Sim... ficou um pouco... mas meu primeiro Dono, lá em 2009 já me dizia uma frase que nunca esqueci: “Quem é de verdade, sabe reconhecer quem é de mentira”. Praticantes reais vão sempre se cruzar e vão continuar praticando BDSM. Os demais, podem continuar tentando mudar regras pela internet. 

OK... o Grey se apaixonou, largou o BDSM para viver com a Anastácia e a mulherada acha que vai conseguir dar o golpe do baú também... Ah... conheço casos semelhantes e o Top nem rico era... kkkkk... Se a Anastácia tivesse gostado da coisa, ele teria continuado sendo dominador e ambos continuariam se amando do mesmo jeito. Foi apenas a solução dada pela autora. O BDSM nunca foi o foco da estória e, sim, a relação amorosa entre Annastacia e Christian. O BDSM só estava ali para apimentar as cenas mesmo.

No mais, ainda queria ver essa estória contada pelo ponto de vista da Leila. Ela realmente era praticante, era escrava e se relacionava diretamente com o Grey-Dominador, que era seu Mestre, e não com o Grey-bau. Ela fala pra Anastacia "O Mestre, o Sr. Grey, ele permite que você o chame pelo seu nome"... Em outro momento ainda diz "Eu nunca dormi na cama do Mestre". Eu compreendo Leila... compreendo seu sofrimento... sua paixão... sua submissão... Mas essa versão certamente não venderia milhões de livros. A servidão real não é bonita e seria chocante demais para o grande publico.


Meus respeitos
Lilica de Mestre Gregório



sexta-feira, 17 de julho de 2020

Músicos aprendizes

(publicado na página no Facebook em 15/01/2020)



O BDSM é uma sinfonia com muitos acordes e melodias tocando ao mesmo tempo. E nós somos músicos aprendizes.

Quando chegamos às vezes buscamos uma melodia; demora pra vermos que a música toca de outra maneira.

Temos voracidade em tocar a música mas ainda sequer sabemos tocar o instrumento e isso nos faz cometer erros graves de execução.

Por não sabermos identificar as melodias, as vezes pensamos que um dos músicos está tocando certo e "colamos" nele. Com o tempo a gente descobre que ele também está fora dos acordes mas, até isso acontecer, tocamos uma boa parte da música de forma errada.

E somos castigados por isso.

Alguns nunca descobrirão a música toda... alguns preferirão tocar apenas a melodia principal, mais fácil.

Mas, se queremos conhecer a peça toda, teremos que estudar muito cada nuance dela.

Muitas e muitas vezes.

E é assim.

Vamos errar muitas vezes e vamos voltar a tocar a cada vez pois apenas com a prática nos tornaremos bons músicos.

E a música vai continuar a tocar.

Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

domingo, 12 de julho de 2020

Negociação, Consideração e a publicidade das relações na comunidade BDSM.



Dia desses, em um dos grupos que estou, uma submissa perguntou se, estando em negociação, já poderia chamar aquele Top de Dono perante a comunidade BDSM (principalmente na forma virtual nas redes sociais e grupos em comum).

Primeiramente, é bom esclarecer que tudo o que falo se trata de uma opinião pessoal. Não é uma determinação de regras, nem um manual litúrgico; é apenas a visão que tenho sobre o tema. Aviso dado, vamos ao post.

Já falei em um outro post neste blog que sou avessa à publicidade do início de uma conversação ou negociação pois estas fases são muito frágeis e passageiras. Normalmente, um praticante (seja Top ou bottom) inicia muitas conversações durante sua caminhada pelo BDSM. Destas, algumas se convertem em relações mas, a grande maioria, não passa da negociação. 
Inúmeras são as razões pelas quais uma negociação não dá continuidade, mas a principal é: uma parte não atende as necessidades ou expectativas da outra parte. É o famoso ditado "quando um não quer, dois não brigam". Mestre Gregório me disse logo nos primeiros dias em que estávamos conversando: "para esta relação dar certo, você tem que querer que ela dê certo".

Dada a efemeridade dessa fase, eu não vejo sentido em divulgar à comunidade com quantas pessoas eu comecei a conversar ou negociar. O que importa à comunidade quantas vezes eu tentei dar início a uma relação que não teve êxito?

Mas, Lilica, eu vejo nos grupos as pessoas anunciando negociações, postando fotos das sessões, o bottom chamando o Top de Dono, agradecendo imensamente a oportunidade de servi-lo. Passada duas semanas, acabou a negociação. Passa mais uma semana, o mesmo bottom anuncia o início de outra negociação e tá lá publicamente chamando outro Top de Dono da minha vida e, depois de uma semana, termina.
Eu confesso que, atualmente, quando cumprimento alguém, nem mando mais saudações para o Dono ou a posse porque eu nunca sei se a pessoa ainda tá com o fulano. As publicações de início e fim são tão rápidas que, se eu fico duas semanas sem acessar um grupo ou rede social, toda a situação já mudou rsrs.

Eu mesma já tive muitas conversações e muitas negociações infrutíferas, mas penso que chamar alguém de Dono é algo tão profundo, tão forte, que dar esse título a todo Dominador com quem apenas iniciei uma negociação me parece menosprezar a minha entrega.

Neste sentido, penso assim: quando um bottom chama o Top de Dono e esse Top começa a tratá-la realmente como posse, qual a lógica de se falar que ainda estão negociando? 
Pergunto isso porque, no meu ponto de vista, a negociação termina quando se tem a primeira sessão. 

Vejo a Negociação como o momento de colocar as cartas na mesa. Quando um Top e um bottom decidem fazer uma sessão, é sinal de que já se conheceram pessoalmente, que conversaram o tempo que acharam necessário onde foram expostos os limites, as preferências de ambos; já se sabe, mais ou menos, se ambos buscam os mesmos objetivos e a primeira sessão é o fechamento desse pré-acordo. 

A primeira sessão é o momento em que Top e bottom vão colocar em prática o que conversaram, vão perceber se há sinergia entre ambos, vão descobrir se realmente um atende à expectativa do outro. Na primeira sessão acontece uma avaliação mútua e ambos vão decidir interiormente se vale a pena ou não investir naquela relação. 

Tiveram a sessão e viram que querem dar prosseguimento na relação? Neste momento Top e bottom entram em avaliação/consideração. 

Quando em consideração, eles fazem sessões regularmente, se encontram, há tarefas... o Top vai apresentando na prática o que realmente espera do bottom; vai adestrando a seu gosto, aumentando a intensidade, a dificuldade, descobrindo a resposta do bottom aos comandos e os efeitos que todas essas coisas causam nele.
De igual forma, o bottom vai descobrindo as rotinas do Top, o que o agrada e o que o desagrada; analisando as próprias reações ao que está vivendo e, por fim, vai se "encaixando" nos parâmetros do Top, a que muitos chamam de "moldar".
É um momento de ajustes, adaptações, onde a relação vai tomando forma dentro dos moldes acordados na negociação.

Sei que muitos praticantes compreendem como negociação todo o tempo que ficaram juntos fazendo sessões até o encoleiramento. Por isso se ouve falar em negociações que duram meses ou até mesmo anos com ambos se tratando como Dono e posse. Esse período pelo qual passaram é justamente a Consideração ou Avaliação. Já comentei sobre isso em um outro post: a pessoa nomeando ou não as fases do relacionamento, elas estão todas lá... Se quer chamar toda a fase - da conversação até a consideração - apenas de negociação, está tudo bem. Na verdade, isso não tem nenhuma implicação prática na relação em si. 

No entanto, na minha opinião, perde-se muito do significado litúrgico e ritualístico da relação, pois o encoleiramento é a conclusão desse processo: é quando o Top decide que o bottom está realmente preparado para portar o nome dele; e isso tem um simbolismo muito forte. 
Mas sempre lembrando que "querer ou não" dar um caráter litúrgico à relação vai do interesse do Top. 

Explicada a minha compreensão sobre o que significa estar "em negociação", então voltamos à questão inicial do tópico com uma leve alteração: uma submissa que ainda não foi encoleirada pode chamar o Top de Dono?

Eu aprecio muito o seguinte pensamento: para um bottom se tornar posse, ele precisa já se portar como posse.

Você não deixa de ter obrigações com o Top ao estar em avaliação ou consideração... apenas ainda não ganhou o "direito" de carregar o nome do Dono definitivamente na sua coleira, assinatura social, ou qualquer símbolo que represente simbolicamente aquela Casa.

Se tornar posse não é uma chave liga/desliga; ela é uma construção interna que ocorre justamente na fase de avaliação/consideração. É, antes de tudo, uma mudança no estado psicológico, não apenas no status social. Antes de "estar" você precisa "ser".
E essa fase pode demorar meses... O tempo que o Top achar necessário para que você, bottom, esteja pronta para representar o nome dele. 

É isso que torna o Ritual do Encoleiramento tão especial: você andou numa estrada árdua, cheia de pedras e espinhos, para finalmente ter a honra de portar o nome dele; é o reconhecimento da sua dedicação, da sua entrega. É o compromisso integral que ambos assumem um com o outro: servo e Mestre.

Neste raciocínio, se o bottom já tem que se comportar como posse até poder se tornar posse definitivamente, por que razão ele não chamaria o Top de Dono? 

Apenas se for uma determinação expressa do Top para que o bottom não faça isso. Mas acho pouco provável que um Top exija tal coisa afinal, na fase de consideração, ele também já se porta como Dono e assim quer ser reconhecido publicamente (Exceto, é claro, aqueles que querem ocultar a existência de uma submissa em sua casa, sabe-se lá por qual razão... mas isto é assunto para outro post).

E quando que se considera o início real de uma D/s? 

Como me disse o Mestre Gregório uma vez: "desde o primeiro contato virtual pois eu já sabia que você seria minha" 🥰. 


Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Modelo de contrato BDSM

Numa época onde muito se discute a consensualidade nas relações sexuais, nada mais pertinente do que citar um item bastante presente e que envolve a fantasia de muitos casais que desejam praticar BDSM: o Contrato. 

No início deste ano, um advogado, ao protocolar uma petição inicial em um processo do Juizado Especial Cível de Cuiabá/MT, incluiu, dentre os documentos anexos, um contrato de submissão sexual muito parecido com o apresentado ao público na franquia 50 Tons de Cinzas, com detalhes digamos "picantes"... rs.

Aproveitando o ensejo vou trazer aqui um modelo de contrato de submissão que redigi a uns três anos... o fiz inspirada em vários modelos que encontrei na internet, inclusive na página do Carceireiro (nem sei se ela ainda existe), onde havia vários contratos registrados.

Existem contratos simples, em formato de declaração; outros mais complexos, com descrição de todas as práticas. 

Seja qual for o modelo escolhido, convém lembrar que um contrato de submissão não tem valor jurídico, sendo apenas um item de fetiche dos casais sadomasoquistas.


 submission contract


CONTRATO DE SUBMISSÃO

____________, doravante intitulado "DONO", firma o presente contrato com __________, doravante intitulada "escrava" neste contrato de submissão.

O ÚNICO E INALIENÁVEL DIREITO DA ESCRAVA É PODER DEIXAR DE SER ESCRAVA QUANDO QUISER, porém, enquanto estiver sob o domínio do DONO, ela deverá obedecer a todas as suas ordens e desejos, proporcionando-lhe todo o tipo de distração, prazer e conforto.
Ambos concordam e confirmam que tudo que ocorra sob os termos do presente contrato será consensual, confidencial e sujeito aos limites acordados e aos procedimentos de segurança estabelecidos no presente contrato. Limites e procedimentos de segurança adicionais poderão ser acordados por escrito.


1. Deveres da escrava
     1.1 A escrava declara que não mais terá decisões próprias nas coisas que faz ou precisa fazer.
     1.2 A escrava declara estar ciente do domínio do Dono 24 horas por dia, sete dias por semana, devendo prestar contas de todas as suas atividades diárias, com relatórios, fotografias ou o que mais o Dono exigir.
     1.3 A escrava declara estar inteiramente a disposição do Dono das noites de sexta-feira até as tardes de domingo todas as semanas, bem como nos feriados ou quando em gozo de férias, estando viagens ou passeios sujeitos à aprovação do Dono.
     1.4 Fica a escrava terminantemente proibida de:
        a) manter segredos para com seu Dono;
        b) desacatar ordens de seu Dono.
     1.5 A escrava declara ser propriedade exclusiva do Dono, estando terminantemente proibida de se submeter ou fazer sexo, ainda que virtual, com outra pessoa, assim como de manter contato com outros Dominadores sem autorização do Dono.
     1.6 A escrava declara que não esperará recompensa pelo bom comportamento, sabendo que esta é uma obrigação sua, aceitando ser punida quer seja insolente, desobediente, ou falhar em alguma tarefa, bem como pelo simples prazer do Dono, entendendo que a punição será sempre justa e para seu próprio aprimoramento como escrava, sem esquecer-se jamais de agradecer ao Dono pela punição aplicada. A escrava aceita humilhações públicas ou até mesmo ser oferecida para outros, confiando sempre no bom senso do Dono.
     1.7 A escrava declara que portará a coleira ou quaisquer outros símbolos de posse, em todo o momento, demonstrando ser propriedade do Dono, não os removendo em hipótese alguma.
     1.8 A escrava declara estar ciente de que o Dono poderá, a qualquer momento, adquirir novas escravas e fazer sessões com mais de uma escrava, conforme seu interesse e necessidade, participando ativamente dessas relações.


2. Deveres do Dono
     2.1 O Dono compromete-se a não prejudicar sua escrava profissionalmente e cuidar do seu objeto de prazer, atentando para não deixá-la com marcas permanentes ou a fazer uso de qualquer meio que coloque em risco a sua saúde, devendo prover o mínimo de conforto, porém o máximo de segurança.
     2.2 O Dono declara que sempre ouvirá a escrava e saberá a seu modo ser compreensivo com suas súplicas, analisando cada caso para saber se a escrava tem ou não razão.
     2.3 O Dono deve evitar, na medida do possível:
        a) Passar a escrava tarefas a serem cumpridas durante seu horário de trabalho;
        b) Deixar marcas de espancamento em partes visíveis do corpo da escrava, como rosto, braços e pescoço.
     2.4 O Dono pode dispor da escrava como melhor lhe aprouver podendo, inclusive, emprestá-la ou compartilhá-la, sempre prezando pela integridade física da escrava.


3. Safeword
     3.1 A Safeword utilizada nas cenas será: “___________” sendo o gesto de segurança combinado antecipadamente de acordo com a situação da cena.
Parágrafo único: Tudo isto na observância do bom senso do Dominador, pois mesmo sem a súplica através da safeword, valerá o bem físico de sua escrava. Cabe ao Dono, também zelar para que seja uma relação prazerosa para os envolvidos na cena.


4. Limites
A escrava tem como principais limites:
     4.1 Prática escatofílicas em geral, aceitando chuvas dourada e prateada.
     4.2 Práticas que envolvam asfixia erótica, mumificação ou uso de máscaras devem ser evitadas. A escrava declara que sofre de claustrofobia podendo estas práticas desencadear uma crise. Uso de vendas ou outros acessórios restritivos podem ser usados, devendo o Dono estar atento para as reações da escrava a fim de evitar crises.
     4.3 Práticas de zoofilia.

Parágrafo único - Fica estabelecido que o bom senso e o respeito mútuo serão as principais regras desse contrato.


domingo, 10 de maio de 2020

O Dominador pode me dar ordens ou punições durante a negociação?

Cena do filme A Secretária

Vamos imaginar a seguinte situação: você começa a conversar com um Dominador e, após algumas conversas, o interesse se torna mais palpável e vocês começam a negociar uma possível D/s. Papo vai, papo vem e, do nada, ele te dá uma tarefa. E agora?

Afinal, o Dominador pode dar ordens ou punições para uma submissa ainda na fase de negociação?

Vou responder a esta questão com um exemplo que gosto muito.

Na cidade goreana de Alkania, as kajirae (escravas goreanas) são classificadas por Silks, com cores diferentes, de acordo com sua proximidade, relação e treinamento. A kajira com grau mais alto é a Black Silk. Pois bem: para que uma kajira mude de silk, há funções e objetivos as quais ela precisa alcançar. 
Lá tem um ditado que diz mais ou menos assim: "Se comporte como a Silk em que você quer estar, e não como a que você está". Ou seja, para subir para uma silk superior você tem que agir como se já fosse uma.

Trouxe isso como aprendizado para o BDSM: se você está em negociação para uma possível D/s é porque tem interesse em se tornar posse. 

Então, se você quer se tornar uma posse, bom... tem que começar a agir como uma rs. 

As relações não tem uma chave liga/desliga; elas fluem. Começar a obedecer àquele a quem se deseja servir no futuro é algo natural, que brota do submisso. 

Óbvio que um submisso não vai sair obedecendo qualquer um que chegue no seu pv dando ordem. Mas, se a conversa desenvolveu o suficiente para ter um interesse mútuo, o certo é realmente agir de acordo com esse interesse, não?

Desenvolvido o real interesse, pra mim é simples: quer ser posse? Haja como posse.

Portanto, respondendo à pergunta: sim... ele pode dar tarefas. Se vai obedecer ou não, depende da vontade do submisso.

Desde quando comecei a conversar com Mestre Gregório, Ele gostava de me passar pequenas tarefas. 
Eu achava aquilo estranho... "nem meu Dono era e já queria me dar ordens"? Eu O indagava sobre qual o sentido daquelas tarefas; a resposta era "você pode se recusar a fazer, mas me deixará muito feliz se as fizer".

E assim foi... as negociações cessaram... já se passaram mais de dois anos e aqui nós estamos... ainda tenho tarefas mas, agora, eu sou a escrava e Ele é o Mestre; agora eu não posso mais me recusar a fazer... rs.

Entretanto, punições, a meu ver não cabem durante a negociação.

A punição do submisso que não aceita se submeter, é não ser dominado.

Portanto, não tem interesse em ser realmente dominado? Vá embora e não olhe para trás.

Bom... pra mim é isso.
Frisando: para mim é isso.


Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Devo chamar Top de Senhor ou Senhora? A hieraquia das posições.

Há assuntos muito recorrentes e polêmicos nos grupos de BDSM. Um deles é sobre a forma pela qual os bottoms devem tratar aos Tops. Afinal, bottoms devem tratar os Tops por Senhor ou Senhora?

Quando eu comecei a estudar BDSM, o primeiro conceito ao qual fui apresentada foi o de hierarquia e verticalidade.  

Esta é:


Dominadores (genericamente falando) estão no topo e submissos (também genericamente falando) estão na base da cadeia hierárquica. 
Eu aprendi a coisa de maneira bem simples: quem está na parte de baixo deve respeitar quem está na parte de cima. 

Uma submissa me falou esses dias que só trata um Top por Senhor ou Senhora quando ele ganha o respeito dela, afinal, como iria tratar com deferência alguém que ela nem sabe quem é e se merece tal distinção?

Eu, lilica, tenho justamente o pensamento inverso: quando sou apresentada a uma pessoa e recebo a informação de que se trata de um(a) Top, ela será tratada como tal, com o respeito inerente à posição. 

Eu chamo um Top de Senhor ou Senhora porque, dentro da comunidade em que vivemos há uma hierarquia. Eu até posso não gostar da pessoa X mas, se ela se comportar com respeito, será tratada com respeito.  Não quer dizer que quero servi-la, e sim que respeito a posição dela (Top) dentro da hierarquia da comunidade que estou.

Se ela passar a apresentar um comportamento inadequado à posição, eu simplesmente me afasto, afinal, quem não está agindo de acordo com a posição hierárquica é ela, não eu.
Porque eu me nivelaria por baixo? 
A minha postura é a minha postura... a do outro, bom, ele que lute... rs. 
A minha submissão é seletiva... a minha educação não é.

Gosto de fazer a analogia com os tribunais de justiça pela sua formalidade. 
No topo temos os Juízes e todos devem ser tratados com a mesma deferência, no entanto, ordens mesmo, recebo e cumpro apenas as do juiz a qual estou subordinada. 
Obviamente, juízes são pessoas e estas podem ser educadas ou mal educadas. Eu nunca vou bater de frente com um juiz por ele ser grosseiro, pois a hierarquia não me permite isso. 

Da mesma maneira no BDSM, existem Dominadores educados e mal educados e a hierarquia me obriga a atuar da mesma forma.

Quer falar com um juiz de igual para igual? Vira juiz.
Quer falar com um Top de igual para igual? Vira Top.

Mas uma coisa boa que se tem no BDSM (diferente dos Tribunais) é que você pode simplesmente ignorar o Top grosseiro e fingir que ele não existe ao invés de bater boca com ele. Não precisa aceitar desaforo ou carteirada se você não fala com a pessoa.  

Então, finalmente concluindo, a hierarquia se respeita de baixo pra cima, observando a verticalidade das posições. 

Respeito ao outro, no entanto, (ao que chamamos de educação) deve existir de Top pra bottom, de bottom pra Top e de Top pra Top. 
Educação vem de berço.

Bom... meu pensamento é esse.

Meus respeitos.
Lilica de Mestre Gregório.

Dez anos e o blog voltou!!!

  Em 2008, quando eu ainda servia ao Senhor FA e me chamava Emanuelle, criei o blog Diário de Emanuelle com a intenção de traduzir em pal...