Publicado originalmente em 10/03/2019 no grupo BDSM Confidence (Facebook)
“Um masoquista está sendo submetido a uma sessão de spanking. Começa leve e vai aumentando a intensidade, troca-se de instrumentos várias vezes. Uma, duas, três horas... o braço do Dominador já está pesado e Ele sente dores no ombro a cada movimento; mas o masoquista não arrega. Depois de quatro horas um amigo daquele Dominador fala “faz tal coisa de tal jeito que vai funcionar”. O Dominador segue o conselho e na terceira pancada o masoquista pede a safe. E aquela cena se transformou numa queda de braço (quase literal kkkk) entre o Dominador e o masoquista.”
Com certeza quem
frequenta a comunidade BDSM já presenciou esta cena algumas vezes,
com diversas variações. É uma dinâmica que pode funcionar para
algumas pessoas e eu respeito isso. Mas, certamente, não funciona
pra mim.
Eu nunca parei uma
cena; nunca pedi safeword. Por que sou a super masoca que aguenta
tudo? Por que não quero ferir o orgulho do Dominador e suporto mais
do que posso aguentar? Não... simplesmente porque nunca precisei.
Porque todo Dominador a quem servi sabia quando devia parar uma cena.
A safeword não é para
ser usada para parar uma cena quando o submisso chega ao seu limite.
Principalmente porque nem sempre isso acontece. Um submisso em
subspace, por exemplo, deixa de responder a estímulos e não sente
mais dor. Ele não pedirá a safeword nunca.
Uma sessão ou cena
demanda comunicação constante: oral ou gestual. A safeword não
deveria ser a tábua de salvação para a paralisação de uma cena.
Ela é a ferramenta para o submisso informar ao Dominador quando algo
está errado, uma emergência, qualquer coisa fora do alcance do
campo de observação daquele Dominador.
Gosto muito do conceito
de safeword parciais, por exemplo amarelo, tem uma coisinha errada
aqui mas dá pra corrigir; vermelho, tem uma coisa muito errada aqui,
melhor parar e partir pra outra coisa.
Nas minhas relações –
e, nestes casos, gosto de frisar bem que é uma opinião pessoal –
se um Dominador apenas parar uma cena após eu já estiver
desfalecendo, certamente vai ser a última vez que ele encostará a
mão em mim. Um Dominador sabe que é necessário breves períodos de
pausa, na qual ele pára uma prática e inicia outra, podendo voltar
a anterior ou não, como ele quiser. Ele está sempre atento à forma
como o submisso responde aos seus estímulos.
Eu acho que existe uma
falta de compreensão muito grande quanto ao uso da safeword.
Tem Dominadores que,
quando o bottom fala a safe, simplesmente encerra a sessão - se
vista e vamos embora! – quando, na verdade, o bottom só estava
comunicando que algo estava errado naquela prática específica.
Tem bottom que acha que
a safeword é o objeto de poder máximo, o cetro que a torna soberana
na relação - eu paro quando eu quero. Cuidado, garota... com
grandes poderes vem grandes responsabilidades... rs.
Mestre Gregório me
disse uma vez que não adianta você ter a safeword e não poder
usar. Às vezes, é melhor você não ter a safe e o Dominador parar
a cena no momento certo, do que você ter uma safe e o Dominador não
parar a cena quando você usá-la, sob o pretexto de que apenas ele
sabe quando deve parar.
Eu ousaria complementar dizendo que sempre se deve ter uma safeword, mas que não seja necessário utilizá-la, pois o bottom pode confiar que o Dominador a quem entrega o seu corpo vai zelar por ele.
Meus respeitos.
lilica de Mestre
Gregório.